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28 de março de 2025
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Setenário das Dores realizado em Itapecerica remonta tradição bicentenária

Sete dias antes da Semana Santa, ou seja, de 6 a 12 de abril, é realizada em Itapecerica o ritual tradicionalíssimo do Setenário das Dores. Há mais de duzentos anos na cidade, se recorda as sete dores de Maria na Igreja de São Francisco, com ritos próprios e música sacra, com raízes no barroco tardio. O Setenário das Dores de Maria, uma das mais importantes e tradicionais celebrações religiosas de Itapecerica foi inclusive registrado em 2018 como bem imaterial do município.

Durante os sete dias que precedem o Domingo de Ramos, como forma de preparação espiritual dos fiéis para a liturgia da Semana Santa é celebrada a belíssima encenação do Setenário das Dores, recordando as sete dores de Nossa Senhora. Interessante destacar a grande presença de jovens e também a participação popular, de pessoas de Itapecerica que moram fora, mas retornam à cidade nessa época para acompanhar o Setenário.

O ritual foi registrado em um livro, coordenado por Dom Gil Antônio Moreira, no ano de 2014.

As sete dores de Maria encenadas são:

1º Dia: Apresentação do Menino Jesus no Templo

2º Dia: A fuga para o Egito

3º Dia: Perda do Menino Jesus na Peregrinação a Jerusalém

4º Dia: Encontro no caminho do Calvário

5º Dia: A morte de Jesus no alto do Calvário

6º Dia: Maria recebe o corpo de Jesus em seus braços

7º Dia:  A solidão de Maria após o sepultamento de seu filho

Assim, durante os sete dias que precedem o Domingo de Ramos, celebra-se na Igreja de São Francisco o solene e belíssimo ofício de Setenário das Dores. Assim diz o Invitatório do Setenário: “Dolores gloriosi recolentes Virginis dominum pro nobis passum venite adoremus”, cuja tradução é “Recordando as dores da gloriosa Virgem, vinde adoremos o senhor que padeceu por nós”.

O ritual segue orações e conta com motetos de Dores, próprios, que são executados pela Corporação Musical de Nossa Senhora das Dores. Para a encenação é utilizado um verdadeiro tesouro da arte sacra, que passou por um trabalho minucioso de restauração. O conjunto tem 24 imagens que vão compor os quadros do Setenário das Dores.

Durante o trabalho, liderado pela restauradora Katya Helaine Silva, percebeu-se que a riqueza histórica das peças, está em detalhes como a utilização da técnica de papietagem em nove imagens. Essa técnica é muito antiga e utilizava tecidos, cola, jornais.

Segundo dados técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), levantados pela equipe de pesquisa e restauração, o conjunto com sete imagens de Nossa Senhora das Dores é único em Minas Gerais. A forma como o setenário é ritualizado na cidade é muito própria também e considerada um patrimônio religioso na região Centro-Oeste. As imagens com roupas, por exemplo, têm uma estrutura de ripas, técnica utilizada para deixar as imagens mais leves para serem usadas em procissões.

No conjunto restaurado além das sete imagens de Nossa Senhora das Dores, existem imagens consideradas secundárias, entre elas: José de Arimateia, Nicodemos, o profeta Simeão, São João, São José, Maria Madalena, Maria de Cleofas. São doze imagens femininas e doze masculinas. Além disso, também receberam o cuidado duas imagens do Cristo Morto e uma do Senhor dos Passos.

Semana Santa em Itapecerica

 A semana santa é o ápice da liturgia cristã. É imensamente grande o número de moradores de Itapecerica que moram fora, mas retornam à cidade por ocasião da Semana Santa para acompanharem as celebrações tradicionalíssimas, onde desde meados do século XVIII e XIX, a Semana Santa é realizada com a mesma estrutura geral.

A forma de se celebrar os mistérios centrais da fé em várias regiões de Minas, assim como em Itapecerica é uma herança dos portugueses. Há notícias de que, em 1854 a 1862 no tempo do vigário Domiciano José de Oliveira, a Semana Santa já era assim celebrada nos moldes repetidos atualmente.

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