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4 de outubro de 2024
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Homilia na Ordenação Presbiteral do Diácono Leonardo Ezequiel, em Carmo do Cajuru

“Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte.”

Caríssimos irmãos(ãs), reunidos sob o olhar do Bom Jesus, louvamos o Senhor da messe que escolhe dentre o seu povo amado aqueles que serão seus servidores e anunciadores do evangelho. Dentre estes está o nosso querido Diác. Leonardo, que hoje será ordenado presbítero para servir o povo de Deus.
Minha afetuosa saudação ao seu pai, o sr. Milton José de Araújo, familiares e amigos, aos ministros ordenados, religiosos(as), vocacionados(as) e ao povo que o Senhor nos confiou nesta amada Diocese de Divinópolis. Como não recordar nesta hora sublime a sua mãe, srª. Maria Regina que agora vive junto de Deus? No dizer do poeta mineiro, “morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe na sua graça é eternidade.”

Enviados em missão

A liturgia de hoje nos insere no amplo horizonte missionário de Jesus. Ele envia os 72 discípulos para anunciar o Reino de Deus a todas as nações. Ao enviá-los dois a dois quis indicar-nos o caminho da missão e da comunhão que nasce do diálogo e converge para a unidade, afim de que todos sejam um. São Gregório Magno vê aqui uma alusão ao mandamento do amor que se dirige a Deus e ao próximo. Assim se expressou o Bispo de Roma: “Eis que envia dois a dois seus discípulos a pregar, já que são dois os preceitos da caridade, o amor de Deus e do próximo. O Senhor envia a pregar os discípulos dois a dois, indicando-nos com isso, sem palavras, que quem não tem caridade para com o próximo de modo algum deverá receber o ofício da pregação.”
O amor a Jesus e ao seu povo constitui a fonte da missão da Igreja. Vemos aqui o retrato da Igreja em saída, como bem nos recordou o Papa Francisco e também seu antecessor, Bento XVI ao afirmar que “a Igreja não está no mundo para si mesma, mas para a humanidade”.
As palavras do Mestre dirigidas aos discípulos constituem a sua carta magna para a evangelização. Nela seus seguidores deverão inspirar suas ações. É difícil ouvi-las e não nos envergonharmos. E isto é uma graça, sinal de que desejamos corresponder melhor ao desejo de Jesus. O que ele nos pede nesta hora exigente da história humana? Ele deseja que sejamos seus amigos e discípulos mansos, desapegados e pacificadores.

Mansidão

Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra (Mt 5,5). Jesus envia seus discípulos pelas aldeias da Galileia como cordeiros no meio de lobos.
Numa sociedade marcada por vários conflitos sociais, religiosos, políticos e culturais somos induzidos a crer que é preciso ser lobo para sobreviver em meio a tantas adversidades. Mas não. Jesus, com seu estilo de vida, nos ensina que o mundo não precisa da voracidade do lobo, mas da mansidão do cordeiro. Somente a amizade com Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29), nos revestirá com sua ternura e nos tornará mansos. Quando Jesus diz – Eis que que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos – ele nos aponta um destino surpreendente. Recorda-nos o motivo pelo qual estamos no mundo, ou seja, para irradiar a luz da bondade divina. Não nascemos para ser lobo, mas simplesmente um ser humano, parecidos com Deus que nos criou por amor. Deste modo seremos reconhecidos como amigos e discípulos d’Aquele que viveu como cordeiro no meio de lobos. Deixemo-nos seduzir pelo Senhor e aprendamos dele a amizade social aberta a todos, a proximidade aos esquecidos e o amor incansável aos sofredores.

Desapego

Jesus pede aos discípulos que sejam desapegados, tenham coração de pobre e nunca se sintam donos das coisas, muito menos das pessoas; pois quem não se liberta do apego às coisas, às pessoas e ao próprio eu, não será capaz de descobrir a beleza do Reino. “Bem aventurados os pobres no espírito, pois deles é o Reino dos céus.” (Mt 5,3). Ao dizer não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, o Mestre convida seus discípulos ao despojamento e à confiança naquele que os chama e envia em missão. Podemos entender esta orientação de Jesus noutra perspectiva: levai convosco o meu Espírito para que se torne visível a força renovadora do amor a todas as pessoas. Esta palavra de Jesus é um alerta aos discípulos para que não se deixem corromper pelo desejo desmedido de possuir e acumular bens materiais, riqueza e dinheiro. O dinheiro é um ótimo servidor, mas um péssimo patrão. Infeliz de quem se deixa seduzir por ele, pois agirá no mundo como um lobo voraz. Nossa única riqueza deve ser Cristo, sua Palavra e o seu povo sofrido que nos foi confiado unicamente por graça, sem nenhum mérito de nossa parte.

Portador da Paz

A primeira coisa que os discípulos de Jesus devem comunicar ao entrar numa casa é a paz, primeiro sinal do Reino. “Bem aventurados os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Se não formos promotores da paz, estamos anulando pela raiz nossa tarefa primeira. A expressão “em qualquer casa em que entrardes”, indica que somos chamados a entrar na vida do povo e compartilhar suas alegrias e tristezas. O povo de Deus é destinatário da graça de Cristo que se expressa através do nosso ministério. Não podemos ser seletivos, pois nosso ministério se destina a todos, prioritariamente aos pobres e sofredores. Servem de estímulo para nós o ensinamento e o testemunho de S. Vicente de Paulo cuja memória hoje celebramos: “Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres. Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem demora. Ao abandonardes a oração, a fim de socorrer a algum pobre, isto mesmo vos lembrará que o serviço é prestado a Deus.”
O ministro ordenado, chamado a ser um instrumento de paz, deve entrar na conflitividade da vida das pessoas para apaziguá-las e não para acirrar os ânimos, criando divisão entre elas. O presbítero tem a missão de promover a paz na convivência comunitária, pois mediante o sacramento da ordem, foi constituído ministro da reconciliação.
Caro filho, Diác. Leonardo a messe é grande e pertence ao Senhor. São muitos os desafios e poucos operários. Mas aquele que nos chama também nos acompanha na missão. Neste trecho do evangelho se diz que o Mestre os enviou ‘na sua frente, a toda cidade aonde ele próprio devia ir’. “O Senhor vai atrás dos seus pregadores, porque a pregação vai à frente e depois chega o Senhor à morada de nosso espírito, quando as palavras de exortação o precedem e, por elas, o espírito acolhe a verdade”.
Nunca se esqueça de que não estamos sozinhos na missão, pois o Senhor nos acompanha. Somos apenas servos do Senhor, e Ele nos quer mansos, desapegados e pacificados para promover a paz. Seja esta a sua alegria.

Dom Geovane Luís da Silva
Bispo Diocesano de Divinópolis
Divinópolis, 27 de Setembro de 2024.

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