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27 de outubro de 2024
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Homilia de Dom Geovane Luís na Ordenação Presbiteral do Diác. Marcelo Henrique Nogueira da Costa

Vinde a mim. Aprendei de mim. (Mt 11, 28-29)

Caríssimos irmãos(ãs), nossa amada Diocese se alegra com a ordenação presbiteral de mais um dos seus filhos queridos, o Diác. Marcelo Henrique. Unimo-nos aos seus pais, Marcelino e Ana Lúcia, familiares e amigos, para agradecer a Deus o dom da sua vocação. Nossa saudação especial ao clero diocesano, religiosos(as), vocacionados do nosso seminário e ao povo de Deus que veio celebrar conosco.

Caro filho Diác. Marcelo, nesta liturgia ressoa a prece de louvore gratidão que Jesus elevou ao Pai, na qual se revela os sentimentos mais profundos do seu coração humano e divino. A ocasião que ativa a gratidão e o louvor de Jesus é uma circunstância na qual nós não pensaríamos jamais em render graças: um momento de crise e insucesso. Jesus anunciou o Reino de Deus, mas sua pregação não foi acolhida pelos sábios e inteligentes que podiam apreciar melhor seus ensinamentos. Ele anuncia o Reino e o revela por meio de parábolas, mas os fariseus, escribas e sumos sacerdotes, não querem acolher o seu anúncio. Estão fechados na sua autossuficiência, enquanto os mais simples se abrem ao dom divino. A experiência de rejeiçãofoi decisiva para que Jesus intuísse o desígnio amoroso do Paique se opõe ao orgulho humano e se revela aos humildes. Assim Jesus surpreendeu a todos louvando a Deus por seu êxito com as pessoas simples e por seu fracasso entre as autoridades do povo.

Retrato de Deus

A oração de Jesus expressa o seu sim alegre ao projeto de Deus, confessando-o Pai e Senhor do universo: Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra. Jesus proclama diante de todos o dom do Pai. Antes dele ninguém ousou chamar a Deus de Pai, uma palavra que condensa o mistério do amor divino, com a qual Jesus descreve sua relação íntima com Deus. Este Pai tão próximo e manso, que nos ama com amor de mãe; é Senhor do céu e da terra.

Jesus bendiz a Deus que oculta sua sabedoria aos arrogantes, mas se revela aos humildes e os insere na relação de amor recíproco entre o Pai e o Filho. Um dom oferecido somente a quem o deseja. E só poderá desejá-lo quem tem necessidade e se descobre mendicante de amor e de sentido para sua vida. Aqueles que descobrem suas falências, o seu próprio não ser; o nosso ser nada; somente estes poderão acolher o mistério grandioso de Deus nas coisas simples e humildes. Caro filho, nunca se esqueça de que a experiência da própria pequenez e fragilidade é a fresta pela qual Deus atua em nossa vida e ministério. A simplicidade é a porta que se abre para acolhermos a riqueza d’Aquele que é tudo: Deus Pai e Senhor do universo.Sejamos humildes e reconheçamos nossa pequenez, pois Deus não se aproxima da janela da nossa mente, por vezes arrogante e esclarecida, mas bate à porta do nosso coração.

Duas estradas

Na sua prece de louvor Jesus se refere a duas categorias de pessoas e as apresenta como duas trilhas que o ser humano poderá percorrer ao longo da vida: os sábios, entendidos e os pequeninos.

Sábios, entendidos são os que se vangloriam diante da vida, dos dons recebidos de Deus e se tornam autossuficientes, arrogantes, incapazes de acolher o mistério, pois estão buscando um Deus sábio e poderoso. Aqui Jesus se refere aos escribas, os doutores da época; os fariseus, que conheciam de cor as Escrituras, aos sacerdotes do templo que transformaram seu conhecimento e poder num pedestal para se elevarem diante dos outros e humilhá-los. Estes, na verdade, não entendem e nada aprendem de novo com o Mestre. Sua visão fechada e coração endurecido os impedem de abrir-se à revelação do Pai através da humanidade de Jesus. Disto se deduz que a inteligência pode suscitar o orgulho, e então, ao invés de servir à verdade, torna-se embotada e nociva ao ser humano. Assim acontece com as autoridades do povo hebreu, supostos sábios e entendidos.

Em contraposição a estes estão os pequeninos, pessoas simples que não fazem conta do seu conhecimento ou prestígio. Aqueles que Jesus escolhe como amigos e companheiros de viagem:excluídos (órfãos, viúvas, estrangeiros), pecadores (enfermos), crianças, mulheres. Estes não têm pedestais para se elevarem, antes experimentam pesados fardos e humilhações, no entanto são mais disponíveis a seguir Jesus e acolhem com alegria os mistérios do Reino. Os pequenos encontram a sabedoria e o poder de Deus no rosto humano de Jesus e nele se tornam filhos de Deus.

Entrar no coração de Deus

Jesus deseja introduzir-nos no coração de Deus. Neste trecho do evangelho, ele exprime sua íntima relação com o Pai: “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Jesus reconhece que recebeu tudo do Pai. O Pai conhece o Filho; o Filho conhece o Pai; isto é, existe uma relação de intimidade amorosa e recíproca. O Filho sabe também que recebeu do Pai a autoridade para revelar o seu amor àqueles que Ele quiser. Tais palavras nos levam à admiração, à adoração e fazem crescer em nós o desejo de entrar na vida de Deus. Somos introduzidos naquele amor recíproco do Pai e do Filho, doado somente aos que se fazem pequenos. Esta é a norma evangélica para os que desejam uma vida fecunda. A relação de Jesus com o Pai não permanece fechada num diálogo a dois, porque o Filho nos oferece aquilo que ele mesmo recebeu: a alegria de conhecer o Pai e amá-lo. Através da sua mediação nos é possível entrar em comunhão com Deus e participar do diálogo inefável entre o Pai e o Filho. A missão do Filho é abrir aos irmãos e compartilhar com eles o seu tesouro, a sua vida de Filho amado do Pai. E a nossa salvação se dá quando acolhemos este dom e vivemos a nossa vocação de filhos.

Apelos de Jesus

Depois de elevar os olhos aos céus para louvar a Deus, Jesus se dirige àqueles que se encontram em necessidade e faz um convite aos que estão cansados e oprimidos. E a estes Jesus faz três apelos.

Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o pesos dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Como é confortante escutar este convite diante do cansaço que esmaga nossa vida, rouba nossa alegria e enfraquece a nossa esperança! É o convite a segui-lo, a participar do banquete do amor, a entrar no reino preparado para nós antes da criação do mundo. Todos que acolherem este convite experimentarão alívio e consolo.

Quando estivermos cansados, ao invés de desencorajar-nos, escutemos o eco deste convite de Jesus. Seremos reerguidos de nossa fraqueza pela sua acolhida, pelo convite que ele nos faz de ir até ele, para encontrar repouso, conforto e força. Estas palavras devem ser tatuadas em nós porque nos serão preciosas nas horas de dificuldade e crise.

Tomai sobre vós o meu jugo O que Jesus promete aos pequenos? Um outro peso? Não. Aos que estão cansados e fatigados Jesus diz para tomar sobre si o seu jugo. Podemos entender que se trata de um novo jugo que torna todas as coisas mais fáceis. Este novo jugo é a amizade com Jesus. O jugo une dois animais para o trabalho, os coloca em condições de caminhar juntos, de produzir, arar a terra. Tomai sobre vós o meu jugo, ou seja, entrem em relação comigo e entre vocês.

Trata-se da nova lei, o jugo de liberdade que Jesus oferece a todos que acolherem o seu convite. Em Jesus se dá a passagem da lei que mata ao Espírito que dá vida e liberdade. O seu jugo, fácil de ser levado, consiste em imitá-lo no caminho do amor compassivo aos irmãos. Jesus não complica a vida. Ele a torna mais simples e humilde, capaz de ser vivida de maneira mais digna e humana.

A amizade com Jesus nos humaniza plenamente. Se nos aproximarmos dele abandonaremos o jugo que pesa sobrenossos ombros e carregaremos no coração o evangelho que torna a vida mais leve. Não porque Jesus exija menos. Ele exige o essencial: o amor que liberta e faz o ser humano gozar de uma vida filial e fraterna. É um descanso encontrar-se com ele. O jugo de Jesus é o mandamento do amor que torna tudo mais fácil. Onde amor não existe a fadiga; e se existe a fadiga, esta é amada, e assim se torna leve.

Quando o cansaço ou dificuldades baterem à nossa porta não poderemos lhes dar as costas. Temos que enfrentá-las corajosamente. Mas só teremos forças se nos apoiarmos nestas palavras de Jesus, pois elas nos fazem sair de nós mesmos para viver no amor. As provações e crises podem levar-nos ao desânimo e assim ficaremos prostrados olhando para o nosso fracasso, dobrados sobre a nossa miséria. Jesus ao invés nos convida a tomar o seu jugo de amor, a acolher tudo em união com ele e para o bem dos nossos irmãos. Assim as provas da vida apresentam para nós uma dupla vantagem: elas nos unem à paixão de Cristo e às pessoas que sofrem.

Aprendei de mim, por que sou manso e humilde de coração Ojugo de Jesus é suave e seu fardo é leve, pois ele é manso e humilde de coração. Ele não é um patrão duro e orgulhoso, masum Senhor compassivo, manso e humilde. Capaz de se curvar até o chão para lavar-nos os pés, colocando-se em nosso nívelpara restaurar nossa dignidade de filhos de Deus. Só nele encontraremos repouso e aconchego.

Jesus nos ensina no evangelho de hoje que a lei do amor não é um fardo para se carregar, mas um par de asas que pode nos levar ao infinito. Peçamos ao Senhor a graça de não nos deixarmos levar pela mania de grandeza, de pensar que sejamos importantes pelos dons recebidos, de querer elevar-nos sobre os outros, de construir pedestais; para não recairmos na atitude dos sábios e doutores que Jesus combateu. Peçamos a Jesus, manso e humilde de coração, a coragem de empregar os nossos dons não para construir pedestais, mas para colocar-nos, a seu exemplo, aos pés dos pequenos e sofredores. Jesus quis ensinar-nos a percorrer a estrada da humildade; fez-se humilde e manso de coração somente para poder dizer a todos nós: aprendei de mim.

Dom Geovane Luís da Silva | 26/10/2024

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