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4 de outubro de 2024
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Fazei tudo o que Ele vos disser

Transforma Senhor a água da minha miséria no vinho saboroso de tua vitória.

Caríssimos, neste tempo propício em que nos aproximamos da Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida somos motivados a convidar Maria para interceder por cada um de nós junto ao seu filho Jesus. Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja, ratifica este convite ao sustentar que não podemos chegar ao Filho, senão por Maria, que é a Medianeira da graça de Deus e nos obtém, por sua intercessão, os bens que Jesus Cristo por nós mereceu. Congregados nesta solenidade, somos convidados a refletirmos sobre o 1º sinal narrado pelo evangelista João quando Jesus transforma a água em vinho em favor da comunidade reunida em uma festa de casamento na região de Caná na Galiléia.

O evangelista nos narra que a primeira semana de Jesus termina com a festa de casamento em Caná. Caná era uma pequena cidade da Galileia conhecida pela boa qualidade de seu vinho, mas que no trânsito temporal passava por momentos difíceis, visto que Roma cobrava taxas e multas em vinho comprometendo a produção local em função das dívidas com o império. E numa família pobre, celebra-se a festa de casamento. João relata este episódio por seu aspecto simbólico: o casamento é o símbolo da aliança de Deus com a humanidade (Jr 31, 31-33), realizada de maneira definitiva na pessoa de Jesus, Deus e Homem.

Surge então Maria. Maria já estava na festa (Jo 2, 1). A mãe simboliza o povo da antiga aliança, que espera o Messias. Maria em seu coração de serva percebe e experimenta a dificuldade. O vinho acabou – “Eles não têm mais vinho” – (Jo 2, 3). Mas faltar? E a festa? E a alegria? Maria apressadamente apresenta a necessidade a Jesus. O convidado para a festa. O único que podia fazer alguma coisa. Sem Jesus, a humanidade vive uma festa de casamento sem vinho. Vale ainda ressaltar que Maria não pediu o sinal. Maria não pediu o milagre. Maria simplesmente apresentou a necessidade e acreditou. Maria creu. Por isso invocada como bem-aventurada – “Bem-aventurada és tu, porque acreditaste” (Lc 1, 45). Maria, porém, não pára. Maria é por excelência a Mulher da escuta, da decisão e do serviço. Maria então, antes de chegar a hora de Jesus (Jo 2, 4), continua a sua profecia. Anuncia aos outros servos que vale a pena fazer alguma coisa – “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Este anúncio é um convite a cada um de nós: conformai a vossa vontade a de Deus. Escutai e estai prontos para o Seu chamamento. Reconhecei-O como o Senhor, que vos indica o caminho e vos conduz retamente.

Terminada a profecia, a “Palavra – Jesus” entra em ação. Estão ali seis talhas para purificação (Jo 2,6). Na dimensão bíblica o número seis simboliza a imperfeição (Ap 13, 18) e Jesus toma da imperfeição para fazer o milagre da perfeição, o milagre do vinho novo, o milagre da vida nova. As talhas eram de pedra, representavam a LEI, portanto estavam ali deixadas, sem uso, sem água. Os Judeus estavam cegos pela preocupação de não se mancharem, uma vez que a religião multiplicava os ritos de purificação. E Jesus utiliza da água que os judeus usavam para as purificações e transforma a água em vinho. A religião verdadeira não se baseia no medo do pecado. O importante é receber de Jesus o vinho novo que Ele nos convida a experimentar. Este, como vinho generoso, nos faz romper com as normas que aprisionam e com a nossa mesquinhez. Nesta proposta o convite se torna mais incisivo: Precisamos encher as nossas talhas!!!

Aqueles que se colocaram a serviço viram festa sem vinho e talha sem água. E atentos às palavras de Maria e de Jesus buscaram água para a talha e viram a festa com vinho novo. É nas mãos de quem se coloca a serviço que o milagre acontece. A água é vida. É vinho. É festa. É casamento. É aliança. Tudo isso por causa da Palavra. Aquele que serve, vê o sinal e percebe a presença sacrossanta de Deus no meio de nós, e aquele que crer, vê a glória de Deus (Jo 2,9). O Episódio de Cana é uma espécie de resumo daquilo que vai acontecer através de toda a atividade de Jesus: com sua palavra e ação, Jesus transforma a relação dos homens com Deus e dos homens entre si e que nos remete a profecia de Isaías: “Quando chegar o Messias os povos plantarão uva e beberão vinho”. (Is 62,9)

Hoje, seria maravilhoso os cônjuges cristãos chegarem até a região de Caná da Galileia, justamente onde a tradição nos lembra das célebres celebrações matrimoniais, descritas nos textos sagrados. Naquela localidade, os moradores continuam generosamente oferecendo aos visitantes um cálice do vinho característico da região, como forma de relembrar o primeiro sinal realizado por Jesus. Para o deleite daqueles que ali se encontram, alguém narra de forma audível o episódio descrito nos evangelhos. Assim, os dois milênios que transcorreram parecem se resumir a um único dia. Isso ocorre porque Jesus verdadeiramente compartilhou da nossa existência, participando de nossa alegria, trilhando nossa história e enriquecendo nossa vida.

Que vinho está faltando em nossas vidas? O vinho da fé, esperança, caridade…? Será que estamos nos assemelhando ao mestre-sala ao não percebermos o vinho que está acabando em nossas vidas, e ainda quando não vemos os fatos acontecerem reclamamos com Deus? Estamos sendo fiéis ao convite de Maria quando nos diz – “Fazei tudo o que Ele vos disser”? Finalizo citando novamente Santo Afonso Maria de Ligório quando diz que Deus nos dá as graças, mas é pelas mãos de Maria que Ele nos dá. Portanto, “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Dai-nos a bênção, oh Mãe querida Nossa Senhora Aparecida!!!

Prof. Marcelo Espíndola

 

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