Vamos avante e para o alto!
Palavra derradeira, em dezembro. Palavra que segue teimosa, em janeiro. Porque a vida continua! O que mudou de lá para cá? Nada. Saímos de um mês e entramos noutro, como fazemos secularmente. Um mês era o último e outro, o primeiro, de anos subsequentes. Sabemos que haverá outros doze meses, outros 365 dias, outras semanas de sete dias. E não foi sempre assim… Havia e há outros modos de contar os dias e de quantificar a vida. Contar dias é convenção. Viver os dias é missão. Esperar os dias é mistério.
A grande verdade é que viver não é tão difícil assim. Basta comer, beber, dormir e conjugar mais alguns verbos. Há quem os conjugue bem pouco, por opção ou por privação, e leva a vida adiante. O difícil mesmo é dar sentido, dar direção, dar finalidade à nossa presença no mundo. Corremos o risco de viver sem ser, de passar sem construir, de morrer sem ter vivido. Assim, início de ano é tempo “kairótico”, não só porque deixamos que o Menino de Belém nos atraísse pela fé, e ela tem o poder de dar sentido, mas também porque, se estamos “no início”, podemos levantar os olhos para o horizonte e tentar redefinir o caminho.
2014 será para nós ano de receber e conviver com um novo Pastor diocesano, ano de copa do mundo, ano de eleições para instâncias altas de poder e decisão (pena que nem sempre de serviço!). Quem será o bispo, quem será o campeão mundial de futebol, quem serão nossos futuros governantes e legisladores? Isso o tempo dirá! É verdade que podemos fazer prognósticos, suposições e até escolhas, mas tudo está sob um véu, um misterioso véu que se abrirá à medida que passarem os dias e os meses.
Mistério talvez fosse a palavra mais oportuna para designar o que temos diante de nós, não só agora, mas sempre: o incerto, o ainda-não, o vir-a-ser, o futuro. Aqui cabem duas ponderações: uma sobre a fé e outra sobre Maria.
“Encontrando-se a caminho, o homem religioso deve estar pronto a deixar-se guiar, a sair de si mesmo para encontrar o Deus que não cessa de nos surpreender. […] quando o homem se aproxima d’Ele, a luz humana não se dissolve na imensidão luminosa de Deus, como se fosse uma estrela absorvida pela aurora, mas torna-se tanto mais brilhante quanto mais perto fica do fogo gerador, como um espelho que reflete o resplendor” (Lumen fidei 35). Isso lembra bem o prólogo do evangelho de João: “Ele era a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo” (1,9). Eis, portanto, um conselho para quem sabe que o tempo futuro é um mistério que extrapola nossos esquemas e previsões: viver sob a luz da fé, buscando nela os critérios de compreensão de todas as coisas, a verdade para as decisões, o amor de Deus que nos põe na existência, nos sustenta nela e nos reivindica na morte. Sob a luz da fé, veremo-nos sob o olhar amoroso e potente de Deus, Senhor do tempo, da história e da vida.
E, para terminar, trago à nossa memória de fé a postura crente e fiel de Maria diante dos mistérios em que sua vida se viu envolvida desde cedo. Tendo como teto as estrelas, como parteiro o Bom José e como primeiros visitadores do Menino os pastores de Belém, sem entender tudo e sem perder o olhar e a luz da fé, Maria “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). É dentro da potente e silenciosa luz da fé que somos chamados à travessia, às novidades, às surpresas, às obscuridades do ano que se abre. Haverá muitas coisas e situações que não compreenderemos no momento mesmo em que acontecerem, mas, se guardadas no coração, sob a luz sempre nova e bendita da fé, serão por Deus mesmo explicitadas, iluminadas e se tornarão lugares privilegiados e kairóticos de experimentar o amor salvador de Deus, sob cujo olhar tudo está. E, segundo a Escritura, “todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28), e isso não sem dor e sem cruz!
A todos, leitores do nosso jornal e internautas do nosso site, desejo um ano pleno daquela Luz verdadeira que desce do alto para iluminar toda treva humana e os convido a colocar o mistério da sua vida no mistério do Menino de Belém, pois “só no mistério do Verbo encarnado encontra luz o mistério do homem” (Gaudium et spes 22). Avante e para o alto, sempre!!
Pe. José Carlos Campos | Administrador diocesano