Uma derradeira palavra…
Ao final deste ano, vivido na graça e na sombra do Altíssimo, quero expandir meu olhar em múltiplas direções, vencendo a miopia da ingratidão e do silêncio estéril, diante dos companheiros de missão e diante de Deus.
Primeiramente, ainda escutando do eco das palavras do Rei do Universo, por quem e para quem tudo foi feito (cf. Cl 1,16), e que contemplamos há pouco pregado na cruz, garantindo ao malfeitor e a nós o “ainda hoje estarás comigo no paraíso”, quero dirigir-me aos leigos e leigas da nossa Igreja Diocesana, cujo dia e missão celebramos neste último domingo do ano litúrgico. O Concílio Vaticano II, cujas sínteses dos textos estamos mensalmente recebendo e saboreando, trata, em muitas partes, destes membros e agentes de especial importância na ordem da fé, da Igreja e da hierarquia. Na ordem da fé, porque esta dignidade é conferida por Deus mesmo, que acolhe, confirma e alimenta todo aquele que se descobre diante d’Ele como filho, herdeiro e servo. Na ordem da Igreja, porque, estando nas mais diversas realidades humanas como crentes e discípulos de Jesus, os leigos são os mais preciosos anunciadores e semeadores da Boa Semente e da Boa Palavra aos irmãos. Na ordem da hierarquia, porque são, em comunhão de amor e de missão com os pastores, aqueles que, amados, formados e assistidos pelo zelo pastoral dos ministros ordenados, são, no interno da Igreja e na vastidão dos ambientes humanos, a presença fecunda e transformadora, capaz de edificar a Igreja e o mundo como casa e reino de Deus. Assim, o leigo, batizado-crismado-comungante, ciente de tão nobre e específica missão, torna-se discípulo ativo e criativo (não passivo e preguiçoso) de Jesus e toma sobre si a cruz de cada dia do testemunho, do serviço ao Reino e do engajamento na comunidade de fé, que deve ser lugar e sacramento de comunhão e salvação. Entre nós, colhemos, com alegria e gratidão, frutos abundantes de presença efetiva e madura de leigos e leigas, nas várias instâncias e estruturas da Igreja e da sociedade. Infelizmente, nem todo iniciado na fé soube torná-la missão e vida, mas prefiro fixar-me, agora, nos muitos irmãos e irmãs que, bebendo da fonte de graça que a Igreja graciosamente oferece e do estímulo dos pastores que têm cuidado bem do seu rebanho e lhes dado o alimento a que têm direito, estão contribuindo com o Rei do Universo, participando de modo próprio e direto do pastoreio, do reinado e do sacerdócio do Senhor Jesus. Recordo aos cristãos leigos uma preciosa palavra da Carta a Diogneto, um escrito do início do segundo século da nossa era: “O que a alma é no corpo, sejam assim os cristãos no mundo”.
Quero, também, dirigir-me aos meus irmãos padres e diáconos depois de um ano no ofício de Administrador Diocesano. Há mais de doze meses esperamos aquele que presidirá, na caridade, a nossa Igreja. Confesso que esperava que fosse uma vacância menor. Contudo, em nenhum momento, me senti abandonado ou desconsiderado pelos irmãos que comigo cuidam desta parte do rebanho do Senhor que é a Diocese de Divinópolis. Foram muitas as reuniões, decisões, encaminhamentos, tarefas, cansaços, mas estavam lá, quase todos. Os ausentes não são do período da vacância, mas de antes ou de sempre! Acho que juntos cuidamos bem da Igreja que nos está confiada. Não houve quem, covardemente, deserdasse, nem lobos que dispersaram o rebanho. Cada um soube cuidar, com zelo e amor, das suas tarefas próprias. Não foi um tempo de marasmo ou de recuo, mas fomos capazes de, comendo a Eucaristia de cada dia, avançar para o possível e o pequeno a mais. Não tínhamos pretensões, senão estimular entre os irmãos o cuidado recíproco e a fadiga necessária de cada dia. Se não progredimos como poderíamos ter conseguido com a presença do Pastor, também não nos perdemos como “ovelhas sem pastor”. Obrigado a cada um dos irmãos padres e diáconos que souberam comigo zelar pela nossa “casa diocesana” neste tempo de vacância, que está mais perto de chegar ao final.
Finalmente, por ocasião do Natal, cujo caminho vamos construir com o tempo e a liturgia do Advento, quero desejar a todos os irmãos e irmãos, católicos ou não, daqui e de longe, assinantes do nosso jornal e internautas, toda a bênção e toda a paz que o Menino de Belém quer dar a todos os homens e mulheres de todos os tempos. Que diante da admirável e bendita Criança que nasce e morre como Deus, possamos deixar-nos envolver pelos mais profundos e sinceros sentimentos que nos aproximem uns dos outros e de Deus, e assim possamos construir um mundo plural, onde a diferença é riqueza e dom, onde a vida tem mais valor que a morte, onde Deus encontre sempre lugar para ficar conosco! Vamos a Belém, sem temer Jerusalém!
A todos saúdo com o coração cheio de gratidão, desejando a cada um, não o que eu consigo pedir a Deus, mas desejando que o próprio Deus seja o presente ou a presença de Natal e de sempre, no coração de cada um!
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Pe. José Carlos Campos
Administrador Diocesano
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