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Totem

Sigmund Freud, médico e considerado “Pai da Psicanálise”, sofreu, e ainda sofre, interpretações as mais diversas, algumas marcadamente preconceituosas, especialmente quando envereda pelo caminho do “Radicalmente Outro”, do “Transcendente” e de Deus.

No livro “Totem e Tabu e outros trabalhos” (1913-1914), delineia sua compreensão sobre Totem, a princípio, Divindade cultuada pelos Povos da Floresta, onde a natureza carrega consigo a força vital a ser respeitada.

Numa leitura apurada, transparece, nas entrelinhas dos textos, a posição de Freud que precisa ser recuperada, pois quando fala do Sagrado no Totemismo deixa desvelar seu pensamento sobre o Pai do Céu em relação ao Pai da terra.

A preocupação e mola mestra que impulsionava as pesquisas de Freud não era a Religião. Centrava seus estudos na Histeria, que vitimava e condenava a muitos e muitas ao manicômio desumano de seu tempo.

Freud era filho de pais filiados ao Judaísmo. A sua cuidadora era do Cristianismo e conservava o hábito de passar com o pequeno menino nas Igrejas. Os motivos não eram religiosos, mas por falhas de sua estrutura mental afetada, gestando no garoto uma compreensão religiosa inadequada.
O “Pai da Psicanálise”, depois de adulto, segue na esteira do ateísmo, sem fechar teoricamente com o Judaísmo de seus pais e nem com outras orientações religiosas. Por vezes, conforme atestam seus escritos, fez discursos em sinagogas judaicas de seu tempo. Mas a preocupação sempre foi com as pesquisas científicas voltadas para o trato da estrutura mental.

Como médico e pesquisador, mas sem grandes recursos financeiros, sofreu ao seu tempo as limitações do sistema vigente. A guerra impunha atitudes aos Judeus duramente perseguidos, vitimando quem discordasse dos ideais arianos de Hitler. Por motivos de segurança, Freud refugia-se com os seus em terras mais seguras, para não acabar num campo de concentração. Apesar de estudado como ateu, não nega o que está resguardado no inconsciente, a concepção de Deus, que precisa ser purificada de preconceitos.

A frase escrita na esteira da Psicanálise para uma palestra sobre sexualidade soou provocativa: “Quem se afasta do Totem se afasta da Natureza”. Situada dentro do contexto da obra de Sigmund Freud e aberta a comentários, especialmente para os estudiosos da Psicanálise, pontua a necessidade de leitura dos escritos do pensador, que perfazem cerca de vinte e três livros, mais um que funciona como índice analítico. A frase citada necessita de um olhar humilde e aberto para novas aprendizagens, cuja base é a leitura do Livro XIII, da Coleção Imago: “Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud”. Ressaltando que apenas foi pontuado o tema “Totem”, adentrar para a temática dos “Tabus” exigirá outros escritos.

A Psicanálise dos Círculos de Viena ganhou contornos globalizantes, tratando de diversas doenças que afetavam a estrutura mental. O cuidado com a histeria abriu caminhos e a cura através da fala trouxe esperanças renovadas para os pacientes, outrora abandonados aos banhos frios e choques elétricos.

As obras escritas por Sigmund Freud granjeou adeptos que, por sobre as pesquisas do “Pai da Psicanálise,” teceram produções teóricas e práticas de cura, dentre eles, a perspectiva do discípulo Carl Jung que, dialeticamente, distancia e aproxima do mestre, de Lacan e outros pensadores que beberam em Freud. Como médico pesquisador, ganhou opositores, especialmente dentro da medicina clássica.

Num tempo marcado por adoecimentos mentais diversos, mesmo a medicina clássica, que tem seu lugar conquistado, é convidada a uma atitude de abertura para pesquisas que ultrapassam a esfera do orgânico. Acampar recursos no trato da estrutura mental e reconhecer o cuidado em rede e as novas contribuições psicossomáticas de áreas de pesquisa no cuidado com o ser humano é realidade sem retorno.

As contribuições Psicanalíticas ganham campo e respeito, pois tem muito a oferecer, até mesmo para a Igreja Católica, que hoje tem um olhar acolhedor e misericordioso, visível na figura do Papa Francisco e pleno em Jesus Cristo.

 

Padre Ailson Cecotti 

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