Tempo de maior solidariedade
A globalização da economia tem demonstrado sua incapacidade de promover uma ordem econômica que assegure estabilidade aos países em desenvolvimento. Como via de mão única, ela favorece o trânsito de capital em favor dos países mais desenvolvidos, tendo os bancos e as multinacionais como os principais canais para as práticas de exploração da mão de obra, de recursos naturais e especulação financeira. Esta transferência de recursos faz com que, diante das sucessivas crises econômicas, ocasionadas pelo modelo econômico especulativo vigente, os países desenvolvidos se mostrem mais eficazes na superação destas crises do que os países em desenvolvimento, como o Brasil.
Outro agravante do modelo econômico vigente é a busca prioritária do lucro, em detrimento dos demais aspectos à cadeia de produção. Com a busca desenfreada do lucro, o cuidado com a pessoa, com o social e com o meio ambiente são relegados a segundo plano ou até mesmos desconsiderados. Este modelo econômico reduz a pessoa à mera força de trabalho a ser instrumentalizada em função do lucro, e o meio ambiente, à mera fonte de matéria prima a ser explorada de forma indiscriminada. Por sua vez, o Estado é relegado a mero legitimador da liberdade do Mercado e, pior, o responsável direto por todos os aspectos da vida social, ficando o Mercado isento destas responsabilidades.
A combinação destes fatores tem resultado em um modelo de desenvolvimento insustentável nos aspectos social e ecológico. Como se trata de um modelo excludente e predatório, a tendência natural é o aumento de pessoas em situação de exclusão, com os diretos fundamentais negados, e os graves danos ao meio ambiente, comprometendo o próprio equilíbrio ambiental. É urgente que se busque a inversão desta ordem e que se construa um outro modelo econômico que priorize a pessoa, o social e o meio ambiente.
De imediato, temos que levar em conta a grave crise econômica que estamos atravessando e as sérias consequências desta no cotidiano das pessoas, sobretudo dos mais pobres. O aumento do desemprego deixa inúmeras pessoas em difícil situação financeira. Diante deste quadro, a solidariedade se torna mais necessária para amenizar o drama dos mais afetados pela crise. Seria louvável que as pessoas que dispõem de melhores condições financeiras se sensibilizassem com esta realidade e se deixassem mover pelo espírito da partilha.
A tendência natural das pessoas diante da crise econômica é de suspenderem as doações, como meio de contenção de gastos. É importante entender que doações não são gastos e, sim, gesto de solidariedade e partilha. Daí a necessidade de mantê-las, ou até mesmo aumentá-las, nestas circunstâncias que pedem de nós maior solidariedade para com o próximo.
Padre Francisco Cota
Pároco da Paróquia Sant’Ana de Itaúna