Cristiano, cristão pelo nome, pela fé e pelo modo de viver
Car@s internautas,
Estamos no mês de agosto, celebrado entre nós como tempo de falar de vocação, como também de repensar, retomar, redefinir nosso projeto vocacional; enfim, tempo de recolocar-nos a questão tão humana e tão primordial acerca do que devo fazer ou devo ser enquanto seres no tempo e na história, chamados à felicidade e à realização pessoal. Aí despontam caminhos e pessoas que se tornam luminosos e estimulantes para quem ainda está no processo de discernimento ou de quem se ocupa da reflexão cotidiana sobre a opção já feita. Não podemos não pensar em homens e mulheres que fizeram diferença no modo como encararam sua presença no mundo e na Igreja. Assim, neste mês vocacional, sob o pretexto de termos celebrado dia 11 os cem anos do natalício de Dom Cristiano Frederico Portela de Araújo Pena, nosso primeiro Bispo, falecido no ano 2000, quero falar dele e do seu exemplo de cristão, padre e bispo, homem do mundo e fiel amante da Igreja.
Cristiano, cristão pelo nome, pela fé e pelo modo de viver. Nascido em berço tradicionalmente católico, educado nos ambientes mais genuinamente cristãos e de vida austera e misticamente configurada a Cristo, este é Cristiano, feito cristão, padre e bispo, construído homem de Deus, para Deus e em Deus, ao longo dos seus incompletos 87 anos de vida. Foi dom enquanto dádiva de Deus para tantos quantos o conheceram, amaram-no e foram amados por ele; foi Dom enquanto sacerdote que soube a hora de aceitar e a hora de renunciar ao múnus do episcopado, num tempo de grandes mudanças, em mesclas variantes de entusiasmos e esfriamentos, acertos e erros, avanços e ilusões; foi Pastor enquanto esteve em todos os ambientes onde caberia bem estar o Bispo, entre grandes e pequenos, ricos e pobres, entre os mais novos e os mais velhos, entre sadios e doentes, na cidade e na roça, na Igreja e na rua, no banco, na banca de revista, nos correios, na farmácia …, lendo, escrevendo, rezando (e tudo isso em doses não pequenas!).
A obra que foi lançada nestes dias sobre ele – Dom Cristiano: apóstolo do Amor de Cristo, pela Editora Matiz – quer recordar momentos, palavras, eventos, afetos de Dom Cristiano, sobre Dom Cristiano, para Dom Cristiano! Não se escreveria a história desta Diocese sem mencionar em algum momento e em várias circunstâncias este homem de Deus, da Igreja e do seu povo. Dom Cristiano teve uma infinidade de amigos, colaboradores, admiradores, dentro e fora do território espiritual da Igreja; teve desafetos e antipatizantes, mas que não fizeram escola nem deixaram manchas que a história não tenha se encarregado de limpar e perfumar com os bons odores da verdade.
Queremos como Igreja amada – pois assim testemunha a sua lápide no interior da nossa Igreja Catedral: “Amou a Igreja” – prestar uma homenagem a este patriarca da nossa Diocese. Sabemos que, muitos antes de Dom Cristiano e outros tantos depois dele, nos falaram de Deus, testemunharam de modo crível seu amor a Deus e à Igreja, mas este pastor a quem ora rendemos esta homenagem póstuma foi um luminoso marco que nunca será esquecido nem diminuído na história de fé e missão desta Igreja Particular.
Dele, antes de terminar este artigo e recomendando, vivamente, a leitura desta preciosa obra que lançamos sobre ele, quero recordar, isto é, trazer ao meu coração, três fatos que marcaram minha saudável e fecunda relação com ele. O primeiro foi a graça de tê-lo como meu diretor espiritual por todos os anos do meu Seminário Maior e muitas vezes tê-lo ido buscar, na velha Kombi do nosso seminário, em Belo Horizonte, lá no seu “mosteiro”, no alto da Raja Gabaglia, para levá-lo a nossa casa de formação para a direção espiritual mensal dos seminaristas. O segundo fato foi a visita cortês que ele vez a meus pais, em Itaúna, em 1990, por ocasião de sua ida àquela cidade para uma ordenação. Tomou nosso simples café, sentado na nossa despojada cozinha de fogão de lenha. Ele desejou isso! Finalmente, quero partilhar o desejo dele – repetido inúmeras vezes a mim – de que eu fosse cursar teologia em Roma. Custei a criar coragem para pedir isso ao então meu Bispo, mas ele não concordou, e louvo a Deus por isso. Quando em outro momento, já ordenado padre, foi-me oferecida esta possibilidade de estudar em Roma e eu aceitei, comuniquei isso a ele e como ele ficou feliz! No mesmo mês e ano em que cheguei a Roma para os estudos, que ele tanto me estimulou a fazer lá, ele se despedia aqui do mundo: era agosto de 2000.
Peço a todos que lerem a obra póstuma que dedicamos a ele no seu centenário natalício, que façam uma prece de gratidão a Deus por este “homem de misericórdia”, que “amou a Igreja”, e cujos gestos de bondade jamais serão esquecidos. A obra pode ser adquirida na Livraria João Paulo II(CLIQUE AQUI), em Divinópolis.
Dom Cristiano, roga a Deus por nós, sussurra aos ouvidos de Deus a necessidade que temos de um Pastor para esta Diocese à qual serviste e amaste por tantos anos e que bem conheceste. Seria um bom presente que nos darias por ocasião do teu aniversário. E, por fim, aí do céu, suplica a bênção de Deus para nós. E nós a recebemos aqui. Amém.
Padre José Carlos | Administrador Diocesano