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A Primavera. Texto de Padre Daniel Leão

Encanto-me muito com as metáforas do pensamento humano que brotaram do encontro com a natureza. Depois do silêncio, da frieza e do tempo de morte que nos faz lembrar o inverno, a natureza irrompe com a beleza das flores. Primo – vere = início/novidade. A primavera é a estação da alegria expressa pelo barulho dos pássaros, a vinda das flores e sua alegria. A natureza nos apresenta o ciclo da vida e me pergunto: por que escolhemos invernos ao invés de primaveras? Ou por que insistimos em permanecer no inverno? A Primavera nos faz recordar a ressurreição. Essa beleza precisa de tempo e de viver cada etapa da vida para florescer.

 

A vida, na sua dinânica, vai experimentando mortes e vidas, invernos e primaveras. Para que haja a flor, metáfora do encanto e da beleza, é necessário que a semente escolha passar pelo sacrifício da morte, o silêncio do chão, juntamente com sua escuridão, para se doar e, assim, dar origem à vida. Normalmente, aquilo que está velado, escondido, que até esquecemos ao nos encantar com a primavera, vestida de seus encantos, é o que sustenta o belo e é a origem de tudo. Nunca se esqueça, antes que existam primaveras em nossas vidas, foi necessário o período do inverno, o qual manteve escondidas as sementes que não desistiram de lutar e puderam explodir de beleza e vida.

 

Nunca tive a pretensão de pensar que a vida é só flores. Mas também não pode ficar nos invernos. A vida precisa de sua dinâmica e movimentar-se sempre. Se uma semente deixasse se sufocar pelo solo, não ofereceria a beleza de si. Não podemos nos deixar sufocar pelas tristezas e dificuldades da vida. É preciso viver cada inverno, frieza e tristeza que vão se apresentando, naturalmente, ao nosso caminhar. Depois da maravilhosa primavera, o calor do verão começa a fazer a beleza ter suas dificuldades para resistir. Nem todas as belezas resistem ao calor. Existem plantas que sobrevivem nele, como no deserto. No entanto, o calor não é suportável por todas. Mas não morrem completamente. Deixam sua herança, ou seja, suas vidas nas sementes.

 

O outono se encarrega de conduzir as sementes ao chão para descansarem. Também precisamos do repouso, do descanso depois de produzirmos vida. Em seguida, é o inverno, símbolo da dificuldade, da austeridade e da rigidez. Resistindo a tudo isso, novamente, a Primavera desperta nas flores – vida consequente de algumas mortes. Por isso, não podemos pensar que as mortes e os invernos são ruins ou até demonizá-los. Faz parte da vida humana. Nós também somos da natureza, criaturas perfeitas à imagem do nosso Criador e acompanhamos o seu movimento.

 

 

 

Por: Padre Daniel Leão

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