Comentário ao Evangelho da Natividade de São João Batista (Lc 1,57-66.80) – 23/06/18
57Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. 58Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela. 59No oitavo dia foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60A mãe porém disse: “Não! Ele vai chamar-se João”. 61Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” 62Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. 63Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “João é o seu nome”. 64No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia. 66E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: “O que virá a ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele. 80E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Comentário do Padre Guilherme
A história de Zacarias e Isabel é cheia de fatos surpreendentes. Era um casal temente a Deus e praticante da religião judaica. Mas, como não tinham filhos, eram considerados estéreis. Por isso, o pensamento geral dos seus contemporâneos é que eles não eram merecedores da graça de Deus. Contrariando isso, após o anúncio do anjo Gabriel a Zacarias, enquanto ele exercia as suas funções sacerdotais no templo, o casal passou a esperar um filho. Zacarias se espantou diante desse anúncio e duvidou. Como sinal para que acreditasse, o anjo disse que ele ficaria mudo. E assim aconteceu.
Neste trecho de seu Evangelho, Lucas descreve o que aconteceu na ocasião do nascimento do menino. Uma gravidez em idade avançada era sinal de graça de Deus. Os amigos, vizinhos e parentes se alegravam com o casal. Cumprindo-se o preceito religioso, tudo foi preparado para a circuncisão do menino, no oitavo dia, após o nascimento. Quando foram escolher o nome, todos pensavam que devia ter o mesmo nome do pai. Para a sociedade daquele tempo não era muito comum que um filho tivesse o nome do pai, mas o nome do avô. Essa escolha diferente pode ser indicação de que Zacarias já tinha mesmo idade bem avançada.
Um fato interessante que podemos observar é que, apesar de o anjo ter indicado qual nome deveria ser dado ao menino (Lc 1,13), não aparece em nenhuma parte do evangelho alguma indicação de que Zacarias tenha contado isso à sua esposa. E Isabel confirmar escolhendo o nome de João parece ser fruto de inspiração divina. Escolha que o marido confirmou em sua resposta escrita.
Essa concordância dos pais em darem ao filho um nome que era inesperado, deixou as pessoas espantadas. Pensaram que poderia ser intervenção divina. E, confirmando a ação de Deus, Zacarias, que havia ficado mudo por ter duvidado quando o anjo lhe anunciou os planos divinos, voltou a falar.
Isso causou temor em todos que ficaram sabendo. É a reação mais comum das pessoas diante das manifestações divinas, que aparecem descritas em outras partes da Bíblia. Para eles, alguma coisa de grandiosa ia acontecer na vida daquele menino. Algo que vinha de Deus.
No final da narração do episódio, Lucas disse que “a mão do Senhor estava com o menino”. É uma expressão comum usada no Antigo Testamento para indicar que Deus guiava, capacitava e protegia alguém para uma missão importante.
Para nós é fácil perceber que realmente “a mão do Senhor estava com João”. Se ele conseguiu cumprir a missão de preparar o caminho para Jesus é porque deixou-se guiar pela inspiração que vinha de Deus. O próprio significado do nome de João Batista, escolhido pelos pais de forma surpreendente para a sociedade daquele tempo, já indicava que a vida daquele homem seria meio da ação de Deus na história da salvação.
O significado profundo do nome João, “o Senhor é favorável, usa de misericórdia”, é indicação que com João Batista, abria-se caminho para a chegada d’Aquele que é a fonte de toda misericórdia que a humanidade tanto precisa.
Padre Guilherme da Silveira Machado é administrador paroquial na Paróquia de São Sebastião, em Leandro Ferreira.