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Homilia para a ordenação presbiteral do Padre Anderson Nunes

Dom José Carlos Campos, Igreja Matriz Sagrada Família, Divinópolis, 22/02/2019

 

Caríssimo Diácono Anderson, tua ordenação presbiteral é ocasião para plantar em ti e recordar a nós o sentido e a finalidade da nossa vocação de ministros ordenados. Tomemos os elementos desta liturgia: a festa da Cátedra do Apóstolo Pedro, a leitura da primeira carta de Pedro, o trecho do belíssimo capítulo joanino do pão da vida e a oração consecratória deste rito de ordenação.

 

A festa da Cátedra de Pedro celebra o ministério apostólico do primeiro dos apóstolos em Antioquia e, mais tarde, em Roma. Cátedra é o símbolo da autoridade e do magistério do bispo. Daí vem a palavra catedral, Igreja da cadeira do bispo. Aqui trata-se de reconhecer o primado da cátedra de Pedro e de seu legítimo sucessor, o bispo de Roma. Nesta liturgia celebramos e renovamos nossa comunhão e nossa fidelidade à autoridade do Papa Francisco, sucessor de Pedro, sobre toda a Igreja, inclusive sobre os outros bispos, apóstolos para cada Igreja. Esta festa recorda e nos convida a crescer sempre mais na unidade e na comunhão entre nós, que formamos o único e mesmo Corpo do Senhor. Tu, Diácono Anderson, desde a ordem dos diáconos da qual participas e em breve na ordem dos presbíteros à qual serás incorporado, deverás cultivar profunda e fecunda comunhão, respeito e obediência ao teu bispo. Hoje eu, amanhã com quem ocupar a missão de apóstolo que preside esta Igreja. Daqui a pouco farás o propósito de desempenhar sempre a missão de sacerdote na ordem dos presbíteros, como fiel colaborador da ordem episcopal, apascentando o rebanho do Senhor confiado a mim e cuja responsabilidade divido contigo. Tu serás colaborador do nosso ministério, como já o fazes em tantas tarefas que te foram confiadas ainda nos primórdios da tua consagração. Este é o pensamento reto sobre a relação entre nós dois. Não penses diversamente! E eu preciso aprender a cuidar de ti e do teu ministério como quem cuida de um filho querido e muito útil à minha missão.

 

A primeira leitura da liturgia de hoje fala por si mesma. Basta-me repetir e ampliar algumas palavras que traduzem bem o ministério presbiteral para ti, para mim e para os irmãos presbíteros aqui presentes. Abramos os ouvidos: sejamos pastores do rebanho de Deus confiado a nós; cuidemos dele, não por obrigação, mas de coração generoso; cuidemos da Igreja não por ganância de dinheiro, de poder, de prestígio, mas livremente; não como dominadores e chefes dos que estão confiados a nós, mas antes como modelos do rebanho. Caro, Diácono e Padre Anderson, precisamos crescer na certeza de que cuidamos do que não nos pertence: a Igreja é de Deus, o Povo é de Deus, os mistérios são de Deus, a graça é de Deus. Somos administradores destes tesouros! E este cuidado pastoral deve ser vivido como vocação, não como poder; como diaconia, não como emprego; como quem serve a irmãos e não como quem cuida de escravos silenciosos; com diálogo e não com tirania; em colegialidade, não com autoritarismo. Quem está na contramão dá um péssimo testemunho e mancha o sagrado ministério presbiteral. Como Pedro, somos testemunhas dos sofrimentos de Cristo e esperamos confiantes receber a coroa permanente da glória quando aparecer o Pastor supremo, Jesus Cristo. Não nos esqueçamos destas virtudes e qualidades que devem resplandecer no teu, no meu e no ministério de cada presbítero aqui presente. Precisamos aprender cada dia mais a cuidar do Povo de Deus sem deixar de escutar e dar atenção às suas opiniões, suas ideias, suas críticas, seus conselhos, sua fé… Devemos dar lugar e valor ao “sensus fidelium”, ao senso de fé dos fiéis, à fé vivida e sentida pela comunidade que presidimos. Não governamos autocraticamente. Precisamos avançar na sinodalidade, na constituição e consideração aos conselhos pastoral e administrativo em nossas paróquias, na participação ativa nas instâncias diocesanas, no compromisso com as decisões e determinações diocesanas que construímos juntos. O rebanho de Deus merece o melhor das nossas qualidades e o melhor de nossa conversão!

 

Tu escolheste, Anderson, como lema presbiteral um trecho do belo e longo discurso do Pão da Vida no evangelho de João: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!” Este capítulo sexto nos põe diante do sinal do pão. O pão é Cristo, cujo corpo e sangue comemos e bebemos para ter comunhão com Ele, para ter parte na vida eterna que começa aqui pela fé, para matar nossa fome e sede de Deus, para permanecer com ele e ele em nós, para não morrer, para ressuscitar com ele no último dia… Estas palavras duras de Jesus geraram entre os discípulos crise, escândalo, descrença, abandono… O versículo 66 diz: “a partir desse momento, muitos discípulos se afastaram e não mais andavam com Jesus”. Nós cremos contigo, com Simão Pedro e com a Igreja, Diácono Anderson: não queremos ir embora, não queremos abandonar Jesus, só ele tem palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos firmemente que ele é o Santo de Deus. Cremos que ele nos escolheu, como escolheu os Doze, mesmo sabendo que entre eles haveria um traidor ou um diabo, como diz Jesus um pouco adiante no texto que não lemos hoje. Oxalá, nosso tempo não gere novos traidores e diabos entre os escolhidos! Nossa Igreja Católica tem sofrido muito nestes tempos com isto! Rezemos pelo Papa e pelos que estão reunidos em Roma com ele nestes dias para encontrar luzes para trevas que desceram sobre nós! Mas voltando ao texto evangélico que escolheste, deparamo-nos, Anderson, com a centralidade de Cristo no caminho da fé e do seguimento. Precisamos reafirmar sempre mais pelo nosso ministério da Palavra, proclamando o evangelho e ensinando a fé católica, e no cotidiano de nosso ministério presbiteral, esta centralidade de Cristo. Nossa fé é cristocêntrica, é cristiforme, é cristológica. Cristo é o centro e o alvo da fé, é a forma de ser do discípulo, é o “logos”, a palavra, a verdade que explica e esclarece tudo, nossos mistérios, nossas trevas, nossa história. O centro não é a Igreja, nem as estruturas, nem as leis, nem os ofícios… O centro é Cristo. Ele é a vida. Ele salva. Ele é o sentido. Ele é a meta. Eis o conteúdo de nossa pregação: Cristo, sua vida, seu mistério, sua páscoa! Não tires os olhos de Cristo, Pe. Anderson! Senão, serás apenas pregador de ideologias, de vaidades, de utopias mundanas…

 

Por último, quero apenas ressaltar algumas palavras da oração consecratória, que em breve serão pronunciadas sobre tua cabeça e tua vida. Elas terão poder e efeito sobre ti e recordarão a nós, teus irmãos presbíteros e bispo, o que Deus fez em nós por esta mesma palavra fecunda e sacramental que fora também pronunciada sobre nós um dia. Daqui a pouco, depois de visitarmos a história do sacerdócio no antigo e no novo testamento, vamos invocar sobre ti o Espírito de santidade para que tua vida seja exemplo para todos. Este Espírito haverá de tornar-te cooperador zeloso de nossa ordem episcopal e dispensador conosco dos mistérios da divina graça, dará fecundidade à tua pregação, para que ela gere frutos de vida e de conversão. Ou seja, o Espírito Santo fará a sua obra em ti. A obra é dele. Tu serás um instrumento. O protagonista é ele. Tu terás um ofício de que o Espírito se servirá. Nossa comunhão e nossa docilidade ao Espírito são condições indispensáveis para a eficácia e fecundidade do nosso ministério. Alimenta e conserva uma amizade sempre maior com o Espírito. Cuida da tua espiritualidade. O que tu serás e farás será obra do Espírito em ti ou então viverás e morrerás sem frutos e serás esquecido como aqueles que ofuscaram Deus no exercício da missão e passaram sem deixar sinais de Deus nos corações humanos. Lembra-te que és apenas o vaso. O perfume é Deus! Não aconteça que sopres ar sem perfume sobre as vidas!

 

Obrigado, Pe. Anderson! Aceitamos e, em nome de Deus, confirmamos teu sim à ordem presbiteral! Amém!

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