Conteúdo

Homilia na Missa do Crisma 2017

Catedral de Divinópolis, 13 de abril de 2017

Querido Povo de Deus, sacerdotes e diácono, religiosos e religiosas, seminaristas e vocacionados, leigos e leigas, reunidos aqui nesta nossa Igreja Catedral, cujas paredes se ampliam e acolhem também os ouvintes das nossas Rádios Candidés e Divinópolis, Santa Cruz e Stilo, e demais emissoras que transmitem esta Missa Crismal; prezados internautas que se unem a nós neste momento; caros irmãos e irmãs que nos assisitirão em outra ocasião, no futuro; a todos, desejo renovação espiritual e reavivamento da fé, que devem ser os frutos mais preciosos da nossa quaresma anual que termina nesta tarde, antes do início do solene tríduo pascal que haveremos de celebrar com o Senhor Jesus. Que nossa oração, nosso jejum e nossa esmola, nossa reflexão da Campanha da Fraternidade, nossas abstinências e sacrifícios tenham sido de bom odor ao Senhor, atraiam sobre nós sua misericórdia e convertam nosso coração ao seu.

Desejo saudar com reverência e gratidão neste dia, os irmãos sacerdotes, colaboradores zelosos de nossa Ordem Episcopal que, juntamente conosco, são fiéis dispensadores dos mistérios de Deus e, unidos a nós, imploram a misericórdia de Deus em favor do povo confiado a nós e em favor de todo o mundo, recordando, aqui, palavras da oração consecratória da nossa ordenação sacerdotal. Nesta quinta-feira do sacerdócio quero prestar-lhes um tributo, fazer-lhes um convite e confirmá-los na missão.

Nossa Igreja diocesana caminha para celebrar, em 2019, daqui a dois anos, seus 60 anos de história e de missão. Sei que a Igreja não são só os sacerdotes e os bispos que passaram ou estão nela, mas é certo e verdadeiro que, sendo nós os pastores desta Igreja, temos conosco e sob nossos cuidados uma multidão de gente, de famílias, de comunidades, pelas quais zelamos como Povo santo e sacerdotal do Senhor, presente e atuante nesta porção da Igreja de Deus. Esta Igreja está confiada a nós e ao nosso sacerdócio ministerial, vivido segundo o coração e a imagem de Jesus. Penso, agora, nos mais de cem sacerdotes que temos hoje, sobretudo nos idosos e doentes, permitam-me recordá-los todos nos nomes dos Padres Antônio Pontello, Francisco de Assis e Joaquim Antônio, mas também trago à mente os mais jovens, ainda desconcertados na missão ou vivendo as crises e os cansaços da primeira hora. Recordo, ainda, no nome do Pe. Euclydes Bebiano dos Santos, os leigos, os sacerdotes e os bispos que são primícias de nossa Igreja terrena à Igreja celeste, de onde também participam conosco desta Eucaristia.

Caríssimos sacerdotes, reconheço que minha paternidade espiritual e pastoral precisa melhorar. Passei muito depressa e sem tirocínio algum de irmão a pai no meio de vocês. Era mais fácil ser irmão! Mas precisamos todos ser pais, eu e vocês, eu para vocês, vocês para os seus! A parábola do filho pródigo nos quer levar a isso: a ser o pai. Talvez sempre procuramos nos identificar lá naquela parábola com o filho mais novo ou o filho mais velho, mas é preciso chegar a ser o pai. Henri Nouwen nos recorda isso na sua bela obra que comenta o quadro de Rembrandt, “A volta do filho pródigo”. Não basta ser filho! É preciso chegar a ser pai! Misericordiosos, perfeitos, santos como o Pai do céu o é! Não é este o apelo de Jesus? Ser filhos como Jesus para que possamos ser um com o Pai, como Jesus o é! Ser como Jesus para ser como o Pai.

Um tributo, eis minha primeira palavra. O tributo, que neste dia quero prestar a cada sacerdote, me leva a reconhecer e agradecer pelo chamado de Deus que ecoou nos seus ouvidos um dia. Deus os encontrou em algum lugar, na cidade ou na roça, nas lidas urbanas ou nas fadigas rurais, entre famílias simples e pobres ou abastadas e importantes, entre muitos outros meninos da mesma idade que Deus não chamou para o sacerdócio. Vocês o escutaram e lhe responderam, fizeram um percurso de formação, estão renovando sua resposta cotidiana ao Senhor. Quero agradecer-lhes pelo sim que se repete a cada dia e pelas promessas sacerdotais renovadas a cada ano, como hoje. Rendo graças ao Senhor que os ungiu e enviou para evangelizar e para curar os corações feridos, cativos, aflitos, abatidos, e pelas maravilhas que Deus realiza através de vocês. Eu e nossa Igreja precisamos da sua unção, dos frutos dela, do zelo que brota dela, da obra boa que ela gera. Vocês e eu somos sacerdotes do Senhor, ministros de Deus, como lembrou o profeta, para cuidarmos do reino de sacerdotes que a fé em Jesus congrega na comunidade da Igreja. Somos responsáveis por muitas vidas que Deus marcou para pertencerem a Ele, no seguimento de Jesus, pela mediação da Igreja. Obrigado pelas inúmeras fadigas, pela suportação silenciosa de muitas dificuldades e dores, pelo testemunho de serviço fiel e próximo ao povo, pela identificação pastoral com sua gente. Que na vida de cada um se cumpra a passagem da Escritura que Jesus leu para si e para nós. Como dizia Santo Agostinho: “Seja serviço de amor apascentar o rebanho do Senhor”. Ofereçamos a Jesus, todos os dias nosso amor pequeno e humano, como Pedro, já que não conseguimos amá-lo na proporção com que somos amados por Ele, nem cuidar como somos cuidados por seu Amor. Ele aceita nossa medida. Ele se converte ao nosso amor, já que não conseguimos nos converter à sua medida. Nosso amor-filia serve a Jesus, já que, como Simão Pedro, não alcançamos com facilidade seu amor-ágape para cuidar das ovelhas e cabritos que lhe pertencem por primeiro e nos foram, por Ele, confiadas: apascenta minhas ovelhas! “Se me amas, não penses em te apascentar a ti mesmo, mas as minhas ovelhas; apascenta-as, considerando minhas, não tuas; procura nelas minha glória, não a tua; meus interesses, não os teus; não sejas daqueles que nos tempos de perigo só amam a si mesmos…”, palavras que Agostinho põe na boca do Sumo Pastor Jesus (Ofício das leituras, memória de São Nicolau, 6 de dezembro).  Ainda nas palavras do grande Agostinho, “bebamos do leite e cubramo-nos com a lã das ovelhas, mas não descuremos delas” (Ofício das leituras, 3ª feira da 24ª semana comum). Ofereçamos nossa medida generosa de amor pastoral e o Bom e Belo Pastor haverá de otimizá-la e conservá-la para que não se extinga, jamais, para o bem dos pastores e do rebanho. Recordemos, com Agostinho, que “os mesmos pastores são também ovelhas do único rebanho, governado pelo único Pastor. De todos nós ele fez suas ovelhas, por todos nós padeceu; para padecer por todos nós, ele mesmo se fez ovelha” (Ofício das leituras, memória de São Nicolau).

Um convite, eis a segunda palavra. O convite que quero fazer-lhes é no sentido de uma acolhida criativa e abrangente das conclusões da nossa 11ª Assembleia Diocesana, que gerou nosso 8º Plano de Pastoral. Há muitas necessidades e muitas frentes de missão nas comunidades, mas vamos nos concentrar no dever comum. Não podemos desconsiderar uma assembleia com 100% de representatividade, nem os esforços e debates anteriores e durante a sua realização. O clero, as lideranças, as comunidades, as pastorais, os movimentos, as novas comunidades, todos devemos discernir e construir nossas escolhas pastorais e comunitárias, gastar nossos recursos e empenhar nossa criatividade pastoral na direção do nosso Plano Pastoral. Será uma falha e uma infidelidade se não quisermos ir por aí! Ainda queria convidá-los a uma acolhida paciente, e certamente gradativa, das novas determinações administrativas, bem como do decreto acerca das nossas côngruas. Em relação às côngruas, podemos em qualquer momento futuro alterar, ajustar e atualizar valores. As paróquias terão, neste novo quadro, uma maior colaboração no nosso presente e no nosso futuro. Vamos condividir estes empenhos financeiros. Isso é testemunhal. Com relação à contabilidade, vamos devagar. O importante era começar, e começamos. Vamos respeitar o ritmo de cada paróquia, que seriamente se envolver no processo. Não temos pressa de ver tudo funcionando. Tínhamos pressa de começar a organizar melhor nossa casa, claramente desordenada. E haveremos de constatar isso com maior profundidade e assombro. Eu estou preocupado. Mas vamos adiante. Sem perder nosso olhar e nossa reverência pelo passado que temos, é preciso construir o novo, o novo que queremos e o novo que somos obrigados a construir. Nossas intenções são boas.

 

Não queremos fazer administração como, infelizmente, a fazem muitos dos nossos agentes públicos.

 

Mantenhamos o diálogo, apostemos no novo, corramos riscos tentando acertar. A vida é assim. A Igreja também! Não tenhamos medo de errar, de repetir, de tentar de novo! Aprenderemos por repetição!

 

Uma confirmação. Por fim, desejo nesta Eucaristia receber e confirmar o sim de cada um ao ministério do amor pastoral, eis a última palavra. A cada um, Jesus pergunta de novo: “Tu me amas?” Espero poder entregar ao Supremo Pastor Jesus, já que Ele me encarregou disso, o “sim”, o “quero”, o “tu sabes que te amo” de cada um de vocês e renovar também o meu. Jesus precisa deste nosso sim, carregado de temores e pleno de esperanças. Este povo numeroso que está hoje aqui e que enche nossas Igrejas tem sede de nossas palavras, nossa presença, nossa proximidade, nosso afeto, nosso amor, nossas fadigas. Não os privemos daquilo que Jesus nos mandou dar a nossa gente: “dai-lhes vós mesmos…”, nos diria Jesus. Nossa presença é a de Jesus!

 

Uma última palavra e esta dirigida a todos: não se esqueçam de rezar pelo seu Bispo, não para que eu seja bem sucedido, isso seria algo muito pessoal, mas para que eu seja fiel ao ministério apostólico que me foi confiado e a fim de que eu seja, cada vez mais, apesar das minhas muitas fraquezas, a imagem viva do Cristo Sacerdote, Pastor, Mestre e Servo de todos. Que na comunhão de preces nos ajudemos mutuamente e mantenhamos a variedades dos carismas, dos dons e dos ofícios que fecundam e embelezam nossa Igreja Diocesana.

 

Que neste Ano Mariano, sob o olhar de Maria, Virgem Aparecida, de Fátima e da Piedade, avancemos na missão de construir uma Igreja que seja casa de Deus com os seus filhos, de modo que as unções que recebemos de Deus, através da Igreja ao longo do nosso itinerário de fé e de missão, nunca percam seu bom odor, sua validade e seus efeitos e sejam transformadas e partilhadas em toda parte como unções que gerem “serviços de amor”.

 

Amém.

 

Dom José Carlos de Souza Campos.
Bispo Diocesano de Divinópolis.

Parceiros