Por onde começar?
Povo de Deus da Diocese de Divinópolis, padres, diáconos, religiosos e religiosas, leigos e leigas, novas comunidades e movimentos eclesiais, irmãos e irmãs de todas as idades e nos diversos postos de missão, por onde começar nosso caminho de rebanho e pastor? Deus quis que continuássemos juntos, em graus diferentes de missão, neste chão chamado Diocese de Divinópolis. Então é preciso organizar o caminho, os carismas, as competências, os horizontes… Não é tão fácil fazer planos quando achamos que tudo está velho e que nada serve ou quando esquecemos o mais próprio da nossa missão.
A natureza do nosso ser Igreja não muda quando se muda o bispo ou outro personagem no organograma da comunidade eclesial. Quando olhamos a Igreja, algumas coisas nela não ficam velhas ou obsoletas. Assim, não é necessário plano de pastoral para nos motivar a celebrar bem o mistério da fé, sobretudo a Eucaristia. Não é necessário um plano que nos leve a nos empenhar com nosso melhor no processo catequético de aprofundamento da fé e do conhecimento de Deus. Não é necessária uma legislação pastoral para nos motivar a cuidar das pessoas (sobretudo as mais fragilizadas e vulnerabilizadas), das famílias (também as especiais), dos pobres (de bens e de espiritualidade), da natureza… Tudo isso e muito mais é da ordem do dia. Isso brota espontâneo das letras do Evangelho sem nenhum esforço de exegese. Aquilo que fizemos até aqui, com ou sem planos de pastoral, foi exatamente o esforço da nossa Igreja local de ser fiel a Jesus e ao Evangelho.
Com isso, não quero invalidar ou desconsiderar os planejamentos pastorais. Eles são importantes e precisaremos de um ou de alguns, se o caminho for longo, mas a letra do texto não obriga as consciências (infelizmente!). Planos não fazem dioceses ou igrejas. A motivação não vem primariamente de fora, mas de dentro, do coração, da fé, do entusiasmo por Jesus e pela missão. Precisaremos de um bispo, de padres, de leigos e leigas, lideranças e agentes, comunidades e pessoas, que apaixonados por Jesus e pelas suas causas e seus prediletos, levem a Igreja ao seu Mestre. Já tivemos muitos planos, cujos frutos não apareceram na medida da beleza ou detalhamento de suas palavras. Plano não funciona se falta elã, se falta espírito vocacional e missionário, se falta vontade e criatividade, se falta colegialidade e comunhão. Plano não faz o bispo ser bom, o padre ser bom, o leigo ser bom! O que faz cada um ser bom é a consciência da missão, do seguimento, do lugar e do dom próprio de cada um. Se cada um assume bem e com amor seu lugar na Igreja, ninguém vai ficar desocupado esperando planejamentos pastorais amplos. “Um bispo que não está a serviço da comunidade não faz bem. Um sacerdote, um padre que não está a serviço da sua comunidade não faz bem, erra” (Papa Francisco na audiência geral de 26 de março de 2014). Há sempre o que fazer! E há de se fazer com capricho!
Por onde (re)começar então? Comecemos pela Eucaristia. Ela faz a Igreja. Celebremos bem. Quem preside, quem prega, quem proclama a Palavra, quem canta, que toma parte nela, faça isso como o primeiro necessário. Quem se dedica à catequese, aquela semanal com crianças, jovens e adultos, mas também aquela catequese que acontece nos grupos e encontros na comunidade, nas escolas de formação e nas reciclagens, nos grupos de reflexão e nas reuniões, faça isso como quem quer ajudar a construir a identidade religiosa dos irmãos. Quem olha para o mundo, para fora dos espaços da Igreja, olhe com os olhos de Jesus, cheios de compaixão e misericórdia, e enxergue as grandes feridas humanas, os grupos esquecidos, os mais periféricos, os sem Deus (ricos e pobres!)… Por aí passa nossa missão, nosso (re)começo, nosso todo dia!
Quando chegar a hora de fazer planos amplos e diocesanos, vamos apenas tentar pôr ordem no muito que já se faz ou se deveria estar fazendo. Ninguém pode se dar o direito de estar à toa ou de recesso, esperando planos. O Evangelho se encarrega de esboçar o único plano necessário: o de Jesus, o Reino de Deus. “Ide, fazei discípulos meus entre todas as gentes, ensinando-lhes a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28,19-20). É preciso descobrir hoje e entre nós, como Igreja diocesana, onde estão as grandes lacunas, ausências e desafios da nossa presença cristã no mundo. Os planos ajudarão nisso. Por isso, eles são necessários. Teremos que nos sentar, as várias instâncias e agentes da ação evangelizadora da nossa diocese, para esboçar caminhos que nos permitam ir juntos e olhando para a mesma direção. Haveremos de fazer isso! E realmente no plural: nós. Não serão planos de um para os demais, mas planos de todo um corpo sobre si e para si mesmo.
Neste tempo pascal em que nos encontramos, peçamos ao Senhor Vivente que ponha graça abundante e transbordante nos nossos corações pascalizados pela sua presença nova. Assim, e só assim, seremos capazes de ser a Igreja do Ressuscitado, que dá vida ao mundo e à nossa gente. A todos, desejo um tempo de muita fecundidade espiritual, pastoral e pessoal. Que o Ressuscitado nos levante e nos faça avançar.
Rezem sempre pelo seu bispo!
Mons. José Carlos, Bispo eleito de Divinópolis.