Campanha da Fraternidade 2014
TEMA: FRATERNIDADE E TRÁFICO HUMANO
LEMA: “É PARA A LIBERDADE QUE CRISTO NOS LIBERTOU” (Gl 5,1)
Mais uma vez, a graça de Deus nos conduz à vivência da Quaresma, tempo que vai da quarta-feira de cinzas à quinta-feira santa antes da celebração da Ceia do Senhor, quando começa o Tríduo Pascal. Quaresma é para nos lembrar no caminho da vida e da história que não estamos prontos, totalmente configurados ao Cristo, homem bom e perfeito, modelo para toda a humanidade que almeja a plenitude do ser. Ao longo do caminho quaresmal, acompanhando a humanidade do Verbo, seus embates com o mal, sua fidelidade ao Pai, seu amor aos seus, vamos aprendendo de novo que nossa vida está remetida sempre a Deus e aos irmãos, e que o pecado é negar essa verdade.
Neste ano, como a Igreja no Brasil faz há 51 anos, vamos reavaliar um aspecto importante da nossa relação com os irmãos a partir da nossa experiência de fé em Deus. Nesta quaresma, vamos ter presente a grave e diabólica realidade do tráfico de seres humanos, seja para o trabalho escravo, semi-escravo ou para mão de obra barata, seja para a prostituição dentro e fora do país, seja para a retirada e venda de órgãos humanos, seja para satisfazer o desejo de “comprar” um ser humano que não pode ser gerado, mas pode ser “adquirido” no mercado do mundo. Podemos até não ver isso com os olhos, como vemos outros males sociais, mas o tráfico humano é tão criminoso e ilegal que há mecanismos poderosos e caros que patrocinam seu anonimato pecaminoso.
Não podemos jamais nos esquecer do porquê da criação do ser humano: para ser parceiro e interlocutor menor de Deus. Deus cria por amor e para amar e quer que aqueles que foram criados à sua imagem e semelhança façam circular entre si um amor que os faça permanecer em Deus. Por isso, a pergunta do Criador ao fratricida Caim, “onde está o teu irmão, o que fizeste?”, será pronunciada sobre nós, no Dia de Deus, em relação a cada irmão que passou pela nossa vida e a quem pudemos fazer o bem e mal, devendo ter feito só o primeiro.
No mistério da encarnação, que celebramos há pouco, o Verbo de Deus assume, de certa forma, toda carne humana. Daí entendemos porque Jesus diz estar sendo feito a ele tudo o que fazemos aos irmãos (cf. Mateus 25,31ss). A vida, o corpo, a totalidade que compõe o outro, tudo que o outro é, isso será sempre algo sagrado, “intocável”, remetido ao Deus Criador, que perguntará sobre nossas relações e o modo como nos afetamos mutuamente.
Diante de realidades tão desastrosas e desumanizantes, como o tráfico humano, há um precioso remédio e uma grande expressão de conversão, fruto espiritual da quaresma, que se chama DENÚNCIA. A conivência, o silêncio, a indiferença são parentes próximos e “benfeitores” dos pecados graves de nosso tempo. Quem sabe, quem viu, quem suspeita, quem foi abordado, quem tem amigos sendo seduzidos pelo tráfico humano, deve denunciar isso às autoridades competentes e, na falta de acesso a elas, levem à Igreja essas situações. Os pastores e as comunidades de fé poderão ser pontes entre os que sofrem e aqueles que devem fazer justiça no mundo.
Vamos, irmãos e irmãs, com Jesus a Jerusalém, ao calvário, ao túmulo, certos de que a morte foi vencida. Cuidar da vida e defendê-la é já saborear a ressurreição e mostrar-nos dignos dela no último dia.
Monsenhor José Carlos – Nomeado bispo para a Diocese de Divinópolis