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Uma nova paróquia: como assim? Algumas provocações! – Parte 3

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12) “Os desafios, portanto, são externos e internos à comunidade. De fora, sopram os ventos do individualismo, do relativismo, do fundamentalismo, do pluralismo e das mudanças familiares. Internamente, somos desafiados a pôr em prática a conversão pastoral, enfrentando o problema da territorialidade paroquial e da manutenção de estruturas obsoletas à evangelização” (Doc. 104, nº 133).

 

13) Só haverá verdadeira revitalização e renovação pessoal e institucional, só haverá conversão pastoral e eclesial quando se retomar com seriedade, criatividade e maturidade espiritual a Palavra de Deus, a leitura orante da Bíblia, a fala permanente e atual do Esposo a sua Esposa que ora, crê, celebra e vive sua opção pelo Amado Jesus.

 

14) Nossas celebrações Eucarísticas e da Palavra precisam ser mais mistagógicas, isto é, serem capazes de introduzir no Mistério, na experiência do Senhor, no calor das Escrituras, comentadas com convicção e paixão (cf. Verbum Domini, nº 59), de modo a “aquecer o coração enquanto Ele nos fala pelo caminho”. Sejam celebrações mais dosadas de palavra e silêncio, mais pascais (levem a um “a mais” não saboreado antes delas). Seja posto maior zelo no trato da piedade e das devoções populares.

 

15) “Cada paróquia deve chegar a concretizar em sinais solidários seu compromisso social nos diversos meios em que se move, com toda a imaginação da caridade. Não pode ficar alheia aos grandes sofrimentos que a maioria de nossa gente vive e que com muita frequência são pobrezas escondidas” (DAp 176). “Só a proximidade que nos faz amigos nos permite apreciar profundamente os valores dos pobres de hoje, seus legítimos desejos e seu modo próprio de viver a fé” (DAp 398). Há muito que aprender dos pobres! É exatamente no serviço da caridade que a Igreja vai criando simpatias, parcerias, entradas pastorais, presença testemunhal, qualidade de presença.

 

16) A paróquia, comunidade de comunidades, favorece e exige mudanças e avanços: a multiplicação e qualificação das lideranças e ministérios; o protagonismo do laicato, ampliando, inclusive, a atuação das mulheres; a diversificação do atendimento e da organização paroquial; a delegação e compartilhamento das responsabilidades e decisões pastorais e econômicas das comunidades; a criatividade pastoral; a vivência mais comunitária e colegial do ministério sacerdotal, garantindo, assim, a continuidade das ações pastorais e evangelizadoras na comunidade, sobretudo quando o padre é substituído.

 

17) A renovação da Igreja e da paróquia exigirá também um novo modelo de pastor, bispos, presbíteros, sobretudo os párocos, os diáconos. O Bispo deverá ser o primeiro a estimular e apoiar, em toda a Diocese, a revitalização das comunidades, que contribuirá para a renovação da paróquia. São os responsáveis pelo desencadeamento do processo da renovação das paróquias e da missão na direção dos afastados. “Estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos com a defesa dos direitos dos mais fracos, e promotores da cultura da solidariedade” (DAp, nº 199). O Papa Francisco tratou do perfil do bispo quando falou aos bispos do CELAM (28/07/13): “Quem guia a pastoral […] é o Bispo. Ele deve guiar, que não é o mesmo que dominar. […] Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes”. Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra. Homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o ameacem, mas sobretudo para fazer crescer a esperança: que haja sol e luz nos corações. Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de Deus em seu povo. E o lugar do Bispo para estar com o seu povo é triplo: ou à frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se atrase mas também, e fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o seu faro para encontrar novos caminhos. Não quero juntar mais detalhes sobre a pessoa do Bispo, mas simplesmente acrescentar, incluindo-me a mim mesmo nesta afirmação, que estamos um pouco atrasados no que refere-se à Conversão Pastoral. Convém que nos ajudemos um pouco mais a dar os passos que o Senhor quer que cumpramos neste “hoje” da América Latina e do Caribe. E seria bom começar daqui.” Diz o Doc. 104: “A paróquia há de fazer a diferença no atendimento, começando pelo padre” (nº 177).

 

18) Na nova paróquia, é preciso “saber acolher a todos […] receber cada pessoa na sua condição religiosa e humana sem colocar, de imediato, os obstáculos doutrinais e morais para a sua chegada. Trata-se de uma atitude misericordiosa da Igreja para com todos. Durante o caminho da fé, a pessoa será orientada a uma conversão e conhecerá a doutrina e a moral cristãs” (Doc. 104, nº 207).

 

19) A nova paróquia deve primar pelo serviço e cuidado da vida, pela presença em todos os dramas humanos, pelo diálogo com os “diferentes”, pela educação e defesa das diversas formas de vida no planeta, pela oferta permanente de ouvidos capazes de escutar, de corações capazes de acolher, de graça que renova o ser, sobretudo pelo sacramento da Reconciliação. A nova paróquia precisa acolher, articular e manter unida a pluralidade interna dos carismas, ministérios e serviços, e favorecer o desabrochar de uma fé que determine e delineie a vida do crente e da sociedade a partir dele.

 

20) É preciso vencer o pessimismo e o derrotismo diante de missão tão desafiadora e encher-nos de novo entusiasmo por Deus e pelo seu Reino.

 

Que nesta missão de recolocar para o nosso tempo a comunidade dos discípulos missionários de Jesus, valha-nos a bondosa e eficaz intercessão da Mãe desta comunidade de irmãos de Jesus. Foi Ele mesmo que quis que ela estivesse no caminho dos discípulos que o amassem verdadeiramente: Eis tua Mãe! Que a Virgem Missionária e Samaritana nos ajude a reacender o fogo da fé e a alegria do seguimento no hoje da missão. Amém.

 

 

Pe. José Carlos Campos – Administrador Diocesano.

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