Centenário de nascimento do Padre João Bruno Barbosa
Esse virtuoso sacerdote nasceu em Itapecerica no dia 6 de outubro de 1920, sendo filho do Dr. Américo Segismundo Barbosa (Amerquinho) e de D. Zenóbia Ribeiro Barbosa (Sinhá).
Seus pais descendem da linhagem dos Mendes Ribeiro, tradicional família itapecericana. Eram primos. O Dr. Amerquinho, como era conhecido na família, nasceu em Itapecerica. Graduou-se em odontologia pelo Grambery, de Juiz de Fora, turma de 1910. Dª Sinhá, de prendas domésticas, que era neta do Vigário João Antunes Corrêa da Costa e seu irmão, Leopoldo Antunes Ribeiro (Popoldo), nasceram em Araxá, onde o pai era Juiz de Direito. Quando vieram para Itapecerica, Leopoldo tinha pouco mais de um ano e D. Zenóbia, alguns dias de vida. Ela não gostava de dizer que era araxaense, mas sim itapecericana. E isto falava com grande orgulho.
Américo e Zenóbia casaram-se civil e religiosamente em Itapecerica, em 12 de abril de 1912.
O Pe. João Bruno teve sete irmãos, a saber: AMÉRICO GOMES, nascido em 29 de janeiro de 1913 e falecido em 26 de março de 1914; SEVERO PAULO, nascido em 30 de junho de 1915 e falecido em 22 de junho de 1979; AMÉRICO GOMES, nascido em 22 de maio de 1917, sendo desconhecida a data de seu falecimento; MARIA CLARA BARBOSA CORRÊA, nascida em 28 de maio de
1918, viúva de João Corrêa, hoje vivendo em Belo Horizonte; LUIZ JOSÉ, nascido em 1º de março de 1922 e falecido em 12 de maio de 1923; CONSTANTINO GOMES, conhecido por Titino, nascido em 14 de abril de 1924, foi casado com Vicentina Etelvino Barbosa e faleceu, em Divinópolis, a 14 de dezembro de 2002 (pai do Dr. Constantino Barbosa, nosso Assessor Jurídico e de Marcos “Becão” da Equipe Diocesana de Redação do Material de Reflexão) e MARIA ANTUNES, chamada em família por Tutuna, nascida em 8 de março de 1928 e falecida em 3 de novembro de 1942.
João Bruno foi batizado na Matriz de São Bento, pelo vigário Mons. José dos Santos Cerqueira, em 24 de outubro do mesmo ano em que nasceu e teve como padrinhos: Belarmino Malaquias, seu tio, pois era marido de Rita Barbosa Malaquias, irmã de seu pai e D. Alzira Ribeiro Pena (Minica), irmã de sua mãe.
Sua Crisma deu-se também na Matriz de São Bento e foi oficiada pelo Arcebispo de Belo Horizonte, D. Antônio dos Santos Cabral, por ocasião de sua 1ª Visita Pastoral a Itapecerica e seu padrinho foi o Mons. Cerqueira, primo de seus pais e que o batizara.
Presume-se que sua Primeira Comunhão tenha sido feita em 1927, ao atingir o uso da razão.
Educado e instruído num ambiente puramente religioso, que era o seu lar, cedo nasceu nele aquele pendor irresistível de abraçar o estado religioso, fato comum na sua linhagem genealógica.
O seu pai profundamente religioso (era membro ativo da Ordem Terceira de São Francisco – a Ordem Terceira do Cordão – da igreja de São Francisco e de Santo Antônio), assim como sua mãe, ativa participante do grupo das Filhas de Maria, educaram-no e a sua família nos sãos princípios da religião de Cristo e, ficaram radiantes e alegres, vendo e observando a inclinação do filho.
Sempre afagaram o desejo de possuir um filho sacerdote. Com fé viva e ardente pediam ao Senhor esta graça e suas preces foram ouvidas.
Mas era preciso prepará-lo não somente para o sacerdócio, mas também para a vida. E assim, ingressou no Grupo Escolar de Itapecerica, onde fez o curso primário. Também frequentou a escola particular do inteligente Pe. Herculano (padrinho de seu pai). Completou sua educação estudando música com o maestro e professor Cesário Mendes, tornando-se violinista. Não chegou a ser exímio na bela arte, como foram seu pai (flautista) e seus irmãos Severo (2º violino) e Maria Clara (piano e órgão).
Ainda em idade escolar fez parte do Pequeno Clero (grupo de coroinhas organizado pelo Pe. José Medeiros Leite, então vigário de Itapecerica).
Terminados os estudos primários foi enviado, em fevereiro de 1935, com mais 15 colegas, para matrícula no Seminário Coração Eucarístico, em Belo Horizonte. Era responsável por ele, sua tia Maria José de Cerqueira Galizes, a tia Zeca, irmã de seu pai.
No dia 28 de fevereiro de 1939, o jovem João Bruno recebeu o seu hábito talar – a batina – e começou os estudos filosóficos e teológicos para atingir o grau de presbítero.
No seminário foi amigo de todos e estava sempre disponível para ajudar a quem quer que fosse.
Recebeu a primeira tonsura clerical no dia 13 de dezembro de 1942. Foi um momento de alegria que se seguiu a uma grande dor na família do jovem seminarista, pois que, em 3 de novembro daquele ano havia morrido sua irmã Maria Antunes, que contava apenas 14 anos de idade.
O sonho acalentado por seus pais caminhava para realizar-se, mas o Senhor, nos seus sábios designios, os quais não nos cabe contestar, fez ao Amerquinho semelhante ação àquela ocorrida com Moisés. Se a este não foi dada a graça de ver a Terra Prometida, o Amerquinho igualmente, não veria o filho feito sacerdote, pois foi chamado ao convívio do Senhor, no dia 5 de outubro de 1943, um dia antes do filho completar seu 23º aniversário.
Alguns anos antes de morrer, Amerquinho ficara cego, por complicações oriundas do diabetes, mal que o levaria a morte. Neste estado pediu ao amigo Cesário Mendes que preparasse a parte musical da Missa Nova de seu filho, com peças que ele pudesse tocar “de ouvido”, tal era seu desejo de ter o filho feito sacerdote.
Estes duros golpes, ao revés de abalarem a vocação do jovem João Bruno, ao contrário, serviram ainda mais para firmá-la.
Agora clérigo, recebe a Ordem do Subdiaconato em 9 de dezembro de 1944 juntamentee com 11 colegas.
No ano seguinte, 1945, a 17 de março, recebeu a ordem do Diaconato. O primeiro ato litúrgico celebrado pelo Diácono João Bruno foi a encomendação do corpo de seu tio, o Prof. Leopoldo Antunes Ribeiro.
A ordenação presbiteral do Diácono João Bruno estava marcada para o dia 28 de outubro de 1945, Festa de Cristo Rei. Mas, neste dia aconteceu a sagração episcopal de D. José Medeiros Leite. Por essa razão a cerimônia foi adiada para o dia 1º de novembro, na Festa de Todos os Santos.
E o dia tão esperado, principalmente por seu pai, havia chegado. O Amerquinho, no céu, com certeza, regozijava-se.
À 1º de novembro de 1945, na igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, no bairro Floresta, em Belo Horizonte, pelas mãos de D. Antônio dos Santos Cabral, que lhe conferira todas as outras ordens, João Bruno, com os colegas Augusto Pinto Padrão, Pedro Lacerda Gontijo, Antônio Nassif Salomão e Osvaldo Barbosa Penna (pela Arquidiocese de Belo Horizonte) e mais Antônio Afonso de Miranda e Geraldo Silva Araújo, religiosos da Congregação Sacramentina, tornava-se para todo o sempre Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec. Registre-se que Pedro Pereira, também religioso Sacramentino foi ordenado em Juiz de Fora, para que sua mãe que estava enferma pudesse participar da celebração.
Dos colegas ordenados ainda vive o D. Antônio Afonso de Miranda, Bispo Emérito de Taubaté e que completou 100 anos de vida no dia 14 de abril passado. Atualmente reside na cidade de Mercês, MG, ao lado de seus familiares,
Após este acontecimento, foi recebido em sua terra natal, no dia 9 seguinte, vindo pelo trem de carreira. Na estação estavam sua mãe, seus irmãos, parentes, amigos e conterrâneos, além de grande número de pessoas do povo. À chegada foi saudado pelo Sr. Luiz Mosqueira Pereira de Melo.
Houve, na Paróquia, nos dias 8, 9 e 10, um tríduo preparatório à sua Missa Cantada.
Sua primeira Missa Solene foi celebrada no dia 11, às 10 horas, na Matriz de São Bento. A Paróquia, na ocasião, estava sem vigário, visto que o Pe. José Medeiros havia sido eleito e sagrado Bispo da Diocese de Oliveira. O Pe. José Mariano era quem respondia interinamente. Foi ele o Mestre de Cerimônias da celebração que contou ainda com a presença dos Pes. José Teodulo Mendes e Altamiro de Faria (que substituiu duplamente, os Pes. Cyr Assunção e Augusto Pinto Padrão, que seriam os oradores, mas que não tendo podido vir, foram providencialmente substituídos pelo vigário de Pedra do Indaiá, não menos gabaritado para as funções). Neste dia, desde às 6 horas celebraram-se missas com comunhões em intenção do novo presbítero.
Às l7 horas houve solene procissão do Santíssimo Sacramento, com pregação do Pe. Altamiro de Faria. Seguiu-se o Te Deum e Bênção do Santíssimo. Após as cerimônias religiosas, a família recepcionou autoridades e povo em geral, ocasião em que fez uso da palavra o Dr. Geraldo Correia de Carvalho.
Já no dia 12, às 8 horas, o Pe. João Bruno celebrou missa em sufrágio das almas de seu pai e de sua irmã Maria Antunes, havendo logo após, solene encomendação. Ainda neste dia, presidiu a cerimônia religiosa do casamento de Ildeu Mesquita e Dª Zilá Pereira.
Todas as cerimônias foram abrilhantadas pela Corporação Musical das Dores.
A primeira nomeação do Pe. João Bruno foi para o cargo de Coadjutor de Itapecerica. Em pouco mais de 2 anos que esteve na terra natal foi Provedor da Santa Casa de Misericórdia, professor de Religião na Escola Normal Imaculada Conceição e no Ginásio Pe. Herculano. Foi ainda confessor ordinário das Irmãs Batistinas. Além disso, iniciou os trabalhos de evangelização no futuro bairro da Boa Viagem (a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira da Comunidade foi por ele trazida diretamente de Aparecida e a ela doada). Em sua terra natal trabalhou ao lado dos Pes. Hilton Gonçalves de Souza e Sinfrônio Torres de Freitas.
Em 20 de janeiro de 1948 foi nomeado vigário de Pedra do Indaiá onde, além de outros empreendimentos de vulto, realizou a reconstrução da Matriz do Senhor Bom Jesus, como também fez-lhe aumentar o espaço físico e instituiu o extraordinário Jubileu do Senhor Bom Jesus, a exemplo daquele que se realiza em Congonhas do Campo e que ficou sendo o maior acontecimento do local.
Pe. João ofereceu ao povo da Paróquia do Senhor Bom Jesus de Pedra do Indaiá, mais de 10 anos de sua vida sacerdotal, numa época em que tudo era difícil e nada oferecia da comodidade e do progresso que hoje desfrutamos.
Criada a Diocese de Divinópolis, em 11 de fevereiro de 1958 e instalada em 17 de maio de 1959, ficando a Paróquia de Pedra do Indaiá na circunscrição eclesiástica da nova Diocese, o Pe. João viu-se incardinado ao clero diocesano de Divinópolis.
Ainda como vigário de Pedra do Indaiá, Pe. João sofreu um acidente automobilístico que, graças a Deus não lhe trouxe maiores consequências. Somando-se ao fato de não gozar de boa saúde pois, como o pai e o irmão Severo, era portador de diabetes, o Pe. João, em 5 de outubro de 1959, uma dia antes de completar 39 anos de idade, foi transferido para Divinópolis como vigário da Paróquia do Divino Espírito Santo, a Catedral Diocesana.
Nesta Paróquia prestou relevantes serviços e nele empregou grandes forças. Ao lado dos afazeres sacerdotais, dirigiu os momentos finais do término do magnífico templo. Paroquiou na Catedral Diocesana por mais de 4 anos.
Este esforço debilitou ainda mais a sua saúde. D. Cristiano, sensível à situação, acaba por nomeá-lo, em 18 de agosto de 1963, Diretor Espiritual do Seminário Menor Diocesano. Neste ministério, orientou e incentivou várias vocações. Além disso, pode cuidar melhor de sua saúde.
Já mais descansado e melhor fisicamente é nomeado, no dia 13 de fevereiro de 1964, Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Guia, também em Divinópolis, onde deu grande atenção à reforma desse templo, hoje dos mais belos da cidade.
Merecendo a confiança de D. Cristiano, o Pe. João Bruno foi ainda membro do Conselho Fiscal do Colégio São Geraldo, então pertencente a Diocese.
O Pe. João Bruno foi também Defensor do Vínculo no primeiro processo de declaração de nulidade matrimonial instaurado na Diocese. O juiz foi D. Cristiano e o Notário, o Pe. Antônio Romão dos Santos.
Estando D. Cristiano ausente da Diocese por participar das sessões do Concílio Vaticano II e, nas eventuais ausências do Vigário Geral, Mons. Hilton, coube ao Pe. João Bruno conceder algumas dispensas canônicas, na forma estabelecida pelo Direito Eclesial.
Quando exercias as funções enumeradas prestando, deste modo, incalculáveis serviços ao Bispado de Divinópolis e a todos os habitantes da florescente cidade, sem distinção, fossem ou não seus paroquianos, a 18 de novembro de 1964, após celebrar sua Missa matinal, internou-se no Hospital Nossa Senhora Aparecida, do qual fora Capelão e Provedor, para submeter-se a uma intervenção cirúrgica com o fim de extrair as amígdalas.
Após a cirurgia foi acometido de violenta hemorragia interna, a qual causou-lhe a repentina morte.
Itapecerica, saindo do violento choque de 3 anos atrás, quando da morte do Pe. José Mariano, era agora massacrada com a notícia que outro seu ilustre filho, mais um filho sacerdote, morrera.
Seus restos mortais foram expostos na Catedral Diocesana e depois trazidos para Itapecerica, acompanhados pelo Bispo Diocesano, pelo Vigário Geral e grande número de sacerdotes, assim como pela sua inconsolável mãe, parentes e amigos.
E, no dia 19 de novembro, após a Santa Missa de corpo presente foi levado para sepultamento no Cemitério de São Miguel.
Quem assistiu os seus últimos momentos deve, por certo, ter pensado: “Ouviu-se uma voz maviosa e cheia de ternura, que, para justificar o seu ato, assim falava; Vem filho meu! Vem gozar do trono que lhe está reservado em minha celeste mansão!… Pois é dando que se recebe e só morrendo que se vive para a Vida Eterna”!
O Pe. João Bruno, pela sua modéstia e comprovada vocação ao sacerdócio, pelo seu sorriso largo e sincero – como o de uma criança (talvez seja disto que advinha seu grande amor pela catequese infantil) – soube conquistar a amizade, o respeito e o amor dos divinopolitanos.
Tanto isso é verdade que por mais de 20 anos, a contar do primeiro aniversário de sua morte, em domingo do mês de novembro mais próximo da data, uma caravana de seus amigos, chefiada pelo saudoso Sr. Vicente Ferreira Valério dali saía e se dirigia a Itapecerica, onde visitava o seu túmulo.
A memória do Pe. João Bruno acha-se perpetuada em Pedra do Indaiá, onde a principal praça da cidade tem o seu nome. Em Divinópolis denomina uma Escola Municipal (antigo CAIC), no bairro Serra Verde e é nome de rua, no bairro Jardim Belvedere e, em Itapecerica, por força de Leis Municipais, a sede do CRAS tem o seu nome, assim como nomina uma Escola Rural.
A Igreja de Jesus Cristo desfalcou-se de um nobre Cavaleiro, um Cavaleiro que enfrentou o bom combate e guardou a fé, e Itapecerica, de mais um piedoso sacerdote, um filho que elevou e engrandeceu a Terra que teve por mãe.
Sacerdotes ordenados em 01/11/1945 por D. Antônio dos Santos Cabral
Assentado o Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte – D. Cabral. / Em pé, da esquerda para a direita: Pe. Antônio Affonso de Miranda, SDN, Pe. Geraldo Silva, SDN, Pe. Osvaldo Barbosa Pena, Pe. João Bruno Barbosa, Pe. Augusto Pinto Padrão e Pe. Pedro Lacerda Gontijo.
DR. CONSTANTINO BARBOSA