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28 de julho de 2015

Cônego José Ferreira Netto: 10 anos na Itaúna Eterna!

José Ferreira Netto nasceu em um vilarejo denominado “Côco”,  pertencente à cidade de Moeda-MG, a 19 de junho de 1910. Filho de Mário Delfino Ferreira e Antônia Ferreira Machado. Foram seus avós paternos José Delfino Ferreira e Leonor Ferreira Machado e avós maternos Francisco Machado Netto e Maria Ferreira Marques.

Recebeu as águas lustrais do Santo  Batismo  na Capela do Sagrado Coração de Jesus do pequeno arraial em que nasceu, a 13 de julho de 1910, sendo oficiante o Mons. Mário Silveira. Foram seus padrinhos de batismo Eugênio Braga e Leonor Vieira Braga.

O  Sacramento da Crisma lhe foi conferido na mesma Capela do Sagrado Coração de Jesus, do Côco, tendo sido o Bispo Oficiante o grande Dom Silvério Gomes Pimenta, Arcebispo de Mariana. Foi seu padrinho de crisma Francisco Machado Netto.

Sua primeira Comunhão aconteceu em 27 de agosto de 1919, também na Capela do Sagrado Coração de Jesus, do Côco, das mãos do Pe. Geraldo, redentorista.
Cursou o Primário em 1919 e 1920, ainda no Côco, e, em 1922 a 1924, em Ouro Preto.

Ainda muito jovem, trabalhou como balconista de uma farmácia, em Ouro Preto, que pertencia a um irmão de Mons. João Castilho Barbosa, Pároco do Pilar de Ouro Preto.

Entrou para o Seminário do Coração Eucarístico, de Belo Horizonte, no ano de 1928, e foi ordenado padre a 18 de setembro de 1937, na Catedral da Boa Viagem, junto com outros três amigos: Pe. Sinfrônio Torres, Pe. Guilherme Kriger e Pe. Cristiano Frederico Portela de Araújo Penna, que posteriormente foi o primeiro bispo da nossa Diocese de Divinópolis, cujo nome empresta à Praça da Catedral: Praça Dom Cristiano.

O Pe. José Ferreira Netto foi cooperador de Mons. Guedes, na Paróquia da Lagoinha, em Belo Horizonte, de 1938 a 1939.

Foi Vigário de Piedade, do Paraopeba, entre 1939 e 1943.  Vigário encarregado de São José do Paraopeba, na mesma data; Vigário encarregado de Moeda, entre 1941 e 1943. Vigário encarregado de Itatiaiuçu de, 1943 a 1946.

Em Itaúna, o Pe. José Ferreira Netto chegou em 1943…Já conhecia o lugar, pois viera aqui alguns anos antes visitar um colega de seminário e rezou na velha Igreja Matriz de Sant’ana ,  antes de sua demolição em 1934…Talvez não tenha imaginado que para essas barrancas um dia viria e delas faria a paróquia e a cidade de sua vida!

Itaúna possuía uma única paróquia…A Paróquia de Sant’ana, criada em 07 de abril de 1841, e que se confundia com a própria cidade. Itaúna era a Paróquia de Sant’ana e a Paróquia de Sant’ana era Itaúna. Isto muito devido ao Direito Português…resquícios de nossa colonização e traços marcantes de nossa Cultura.

Em 1943, nossa querida Itaúna era um povoado de, aproximadamente, 15 mil pessoas…Pelo acervo de fotos da Paróquia temos uma boa ideia de como era bem pequenina e espalhada a nossa povoação. Havia aqui 5 automóveis!

Pe. José Ferreira Netto foi o nosso estimado Pároco de Sant’ana, de 1943 a 1985…42 anos de paroquiato. Praticamente, viu a pequena Itaúna crescer, evoluir, desdobrar-se em diversas outras paróquias ( hoje são 6: Sant’ana, Sagrado Coração de Jesus, Fátima, Piedade, São José, Aparecida).

Itaúna, Minas Gerais, o Brasil e o mundo mudaram por demais neste período do paroquiato do nosso saudoso Pe. Zé Netto. Ele viu daqui o mundo e Igreja mudarem…
Quando chegou, a Santa Missa era em latim, com o padre virado para o Sacrário e sempre usando a batina negra como veste talar, ou seja, de uso contínuo, mesmo fora da Igreja.

E assim o fez por 22 anos, até o Concílio Vaticano II permitir um novo rito, em língua vernácula. A batina, esta, enquanto foi o Pároco, jamais deixou de usar…Somente a tirou devido a ordens médicas e já bem na sua velhice: honrava seu sacerdócio, acima de tudo.

Foi um homem de vida espartana. Metódico, acordava sempre no mesmo horário, antes das seis da manhã, mesmo na  velhice e já aposentado da funções paroquiais. Para tomar seu banho, fazer a barba, cotidianamente, e passar o seu café…

Gostava de cuidar do jardim e da horta… Muitos ainda se lembram dos jardins da antiga Casa Paroquial ( que foi construída no tempo dele) na praça, hoje Centro Pastoral “Pe. José Ferreira Netto) sempre com as roseiras exuberantes e uma horta bem viçosa e cuidada…Costume que levou para sua nova morada, quando se aposentou; situada na rua São Miguel, nº 104, no bairro das Graças.

Pe. José Netto marcou, indelevelmente, sua passagem por estas terras. Itaúna muito lhe deve!

Pe. José Netto trabalhou, muito e muito, para fora de sua sacristia…Para muito além da religião. Tinha preocupações, e grandes, para com o social, a educação e  a saúde em nossa cidade

Quando aqui chegou, em 1943, não havia uma escola para os meninos, pois a Escola Normal ( hoje Escola Estadual de Itaúna, da qual foi também seu Diretor entre 1966 e 1970) só atendia as meninas e tocada por uma Congregação Religiosa ( embaixo funcionava a escola e no andar superior a capela que possuía uma sacada; as celas das irmãs e o quarto para as internas).

Tratou, logo, portanto, com outras pessoas ilustres de nossa cidade, fundar o Colégio Sant’ana, para atender os meninos daquele tempo.

Por ter contatos na capital, com a obra de Dom Bosco, logo pensou nos  menores de rua e desamparados de seu tempo: daí veio a fundação da Granja Escola São José, junto com o então prefeito, Cel. Arthur Vilaça e sua esposa Dona Dorica.

Criou também o antigo Lactário, que desaguou na Pastoral do Menor e hoje “Casa Nossa”; preocupou-se com os idosos e junto com o Cordomar Silveira, abraçou a causa do Asilo “Frederico Ozanan”. Tinha, pelos detentos, os presos, um zelo de pai…disso brotou a Pastoral Carcerária, que abriu caminho para a APAC de Itáuna!

Sempre prestou assistência e a fez prestar aos mais necessitados e imbuído do espírito do resgate da dignidade da pessoa humana.

Resgatou a Festa do Reinado, de Itaúna, então com sérias divergências com a Arquidiocese de Belo Horizonte, a qual pertencia a nossa Paróquia de Sant’ana. Presidia sua “missa conga” e colocava no altar da Igreja Matriz, as rainhas e reis do Congado….tudo isso em um tempo onde nada disso era usual.

Pe. José Netto, conservador no rito e aberto para as necessidades sociais da Itaúna de seu tempo. Até na inauguração de templos protestantes se fez presente!
Turrão, teimoso, enérgico…mas tinha de sê-lo e bem sabia disso!

Até a nossa Praça da Matriz tem o tamanho que tem dada a sua grande teimosia. O clube itaunense seria construído bem próximo ao centro da praça…pedras chagando para o alicerce…Pe. José Netto, após diversos avisos ao Prefeito Dr Milton Penido, via-se sendo enrolado. Não teve dúvidas: fez a mala e chegou na prefeitura… ou saem as pedras ou eu me vou! Engraçada situação. As pedras se foram, ele ficou e hoje temos a praça da Matriz! Praça do povo e não dos carros!

Falta-nos espaço e tempo aqui, para narrar toda a obra espiritual e material  do nosso Pe. Zé Netto, Itaúna não pode jamais esquecer-lhe a memória!

Permito-me neste ponto ser pessoal…Fui coroinha, acólito e um admirador do nosso estimado Cônego José Ferreira Netto. Aprendi muito com ele e sobre muitas coisas da Vida;  lhe sou  eternamente grato!

Fui seu amigo das últimas temporadas da vida…Convivi com ele, dos seus setenta e pouco anos até a sua partida, aos noventa e quatro. Era um de seus  motoristas, que o conduzia para celebrar suas missas, enquanto teve condições físicas para fazê-lo.

A pedido do então bispo da Diocese e seu grande amigo, Dom Cristiano, recebeu do Papa Paulo VI, o título de Cônego, em 1966,  que jamais sequer assinou como sendo um.
Pe. Zé Netto…na Itaúna Eterna, com certeza, junto ao Trono do Cordeiro e sob o olhar da Virgem, trás em seu coração toda a Itáuna…de ontem, de hoje e de sempre!
“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” ( Jo 10, 11)

 

Prof. Luiz Mascarenhas – paroquiano de Sant’ana

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