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Misericórdia e Perdão

Eis que nos encontramos num tempo favorável de graça, Ano Santo. Tempo propício para fixarmos o nosso olhar na Misericórdia do Pai. Haveremos sempre de nos jubilar por celebrar essa misericórdia, celebrar aquilo que é ou deveria ser a nossa essência, pois assim como Aquele que nos criou nos perdoa, também, nós, devemos  perdoar. É o que podemos chamar de “círculo virtuoso” da misericórdia. Fritiz Rienecker, um exímio comentarista, afirma que: “Quem não se torna misericordioso com a misericórdia de Deus e não aprende a perdoar a partir do perdão de Deus, desperdiçou a graça de Deus”.

Se Deus que nos concede o seu perdão todas as vezes que lhe suplicamos através do Sacramento da confissão, porque nós negaríamos o perdão ao nosso irmão? Perdoar nos torna mais humanos, e quanto mais humanos somos, temos a possibilidade de estar mais próximos de Deus. E é exatamente essa proximidade com Deus que nos faz misericordiosos como Ele. Assim, perceberemos que há uma íntima associação da misericórdia com o perdão. Poderíamos até ousar em dizer que eles são sinônimos, pois não há misericórdia sem perdão e não há perdão sem misericórdia. Somos, cada vez mais, impelidos pelo nosso Papa a viver a misericórdia, não como algo abstrato, com teorias mirabolantes e de difícil compreensão, mas como algo simples, que se traduz através de gestos e com palavras que acolhem. Somos convidados a exercer a misericórdia, sem necessitar sair do lugar para exercê-la. Dentro de nossa própria casa, por exemplo, temos que requisitar, a todo tempo, em nós, a misericórdia. Numa traição, na desobediência dos filhos, na atitude de posse dos pais para com os filhos; eis o desafio. Sem sair do lugar, vamos perceber que a nossa casa é a escola da misericórdia. Ali, sou convidado a olhar as mazelas, limites, pecados e a realidade humana daqueles que eu amo com os olhos de Deus, para lhes conceder a misericórdia. E também reconhecer que, como eles, estamos propensos a cair, e, assim, necessitaremos olhar e sermos olhados com amor.

Resta-nos rendermos ao que diz o Papa Francisco na Bula Misericordiae Vultus, […] “se perdoamos a quem nos ofende e rejeitamos todas as formas de ressentimento e ódio que levam à violência; se tivermos paciência, a exemplo de Deus que é tão paciente conosco; enfim se, na oração, confiamos ao Senhor os nossos irmãos e irmãs. Em cada um destes 'mais pequeninos', está presente o próprio Cristo. A sua carne torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga… a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João da Cruz: ‘Ao entardecer desta vida, examinar-nos-ão no amor’”. E assim sempre que precisarmos requisitar em nosso ambiente familiar e social a misericórdia, jamais nos esqueceremos de que quem perdoa concede e exerce a misericórdia. Quem perdoa abre mão de cobrar a dívida. E é por isso que o perdão é o exercício da misericórdia.

Que interceda por nós a Virgem Maria, a mãe da Misericórdia, para que consigamos almejar o desejo de sermos “Misericordes sicut Pater”, Misericordiosos como o Pai. 

 

 

Por Seminarista Carlos Augusto dos Santos Balsamão | 3° ano de filosofia

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