Uma Igreja inserida e atuante – Relembrando o tema da Campanha da Fraternidade sobre o Tráfico humano.
Romper com o conservadorismo, que prefere uma Igreja segura de si, mas fechada ao diálogo com as constantes mudanças sociais, constitui um desafio e uma necessidade que se impõe à própria Igreja. Isto porque o anúncio do Evangelho lhe foi confiado para que ela o faça no decurso do tempo que é dinâmico e em consonância com este dinamismo.
Cabe à Igreja ficar atenta aos sinais dos tempos, presentes nas mudanças sociais, para assim responder aos novos desafios da evangelização. Trata-se de penetrar, com coragem, nos novos ambientes, resultantes do atual avanço tecnológico, e dialogar com eles. As mudanças tecnológicas indicam as mudanças de mentalidade. Resulta destas mudanças uma nova cultura. Cabe à Igreja estar presente neste processo iluminando-o com os ensinamentos do Evangelho. Ignorar ou querer refrear tal processo constitui para a Igreja uma postura ingênua voltada para o ostracismo. Ao contrário, cabe, à Igreja, dar uma resposta contundente aos novos desafios, dando a conhecer o dinamismo próprio do Evangelho.
Um olhar crítico, mesmo que despretendido de qualquer leitura depreciativa, permite perceber um insistente conservadorismo predominante na cúpula da Igreja. Não se trata de ignorar as muitas situações e ocasiões, ao longo da História, em que a Igreja exerceu, de forma contundente, seu profetismo. No contexto da América Latina e do Brasil, através do CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano) e da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a Igreja manteve uma postura mais profética nas últimas décadas. Cabe considerar que estamos falando do perfil da Igreja e não de realidades restritas, em que a postura particular de um bispo ou de um padre podem não corresponder a este perfil.
Dentre outros elementos, o histórico das campanhas da fraternidade, promovidas pela CNBB, evidencia a inserção e o comprometimento da Igreja com o social. A cada ano, o tema da Campanha da Fraternidade coloca em discussão uma questão social grave que precisa ser debatida, visando a conscientização da sociedade e o fomento de políticas públicas que venham solucionar a problemática em questão. Este ano, a Campanha da Fraternidade aborda a grave questão do “tráfico humano”, que em suas várias facetas viola a dignidade da pessoa humana, reduzindo-a a mero produto de mercado, e como tal, destinada à lucratividade.
O tráfico humano é praticado de várias formas, tais como: situações em que a pessoa deixa sua família, sua cidade, sua região, seu estado ou até mesmo seu país, enganada por aliciadores que lhe apresenta propostas de trabalho atraentes, não cumpridas posteriormente, submetendo-a a condições precárias de trabalho e de moradia, e até mesmo a trabalhos forçados; situações em que aliciadores, servindo-se de agências de viagens, redes hoteleiras, agências de modelos e casas de shows, prometem altos cachês às vítimas, submetendo-as, posteriormente à prostituição; situações em que crianças e adultos são raptados para a extração e comercialização de seus órgãos; situações em que crianças são raptadas para adoção ilegal; situações em que os conflitos políticos, étnicos, raciais e religiosos submetem as pessoas às condições de refugiados, deixando-as vulneráveis à ação dos aliciadores do tráfico humano.
Vemos assim que a Igreja, no escopo de continuadora da missão de Cristo que “veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10), mostra-se inserida e comprometida com a defesa e promoção da dignidade humana. Eis o que também nos propõe.
Padre Francisco Cota
Pároco da Paróquia de Sant'Ana – Itaúna – MG