A Quinta-feira Santa é memória da última ceia de Jesus, de sua entrega, de seu amor sem limites, da inauguração da nova aliança no sangue dele derramado na cruz. E também da instituição do sacerdócio ministerial e do Mandamento Novo.
"Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amouos até o fim" (Jo 13,1). Estas palavras do Evangelho nos fazem entrar no espírito da liturgia deste dia. Jesus sabia que seria entregue às autoridades que o estavam procurando há muito tempo. E ele não fugiu. Resolveu encarar sua missão até o fim, por amor ao Pai e por amor aos seus. Com dois gestos simbólicos, anunciou profeticamente sua morte na cruz: o lava-pés e o pão partido e partilhado juntamente com o vinho, na espera ardente da realização do Reino de Deus.
Na ação de graças que acompanha a partilha, expressamos que a vida dele é oferecida ao Pai, em benefício dos irmãos: "Isto é meu Corpo, meu Sangue, doado por vós... Tomai, comei... Fazei isto para celebrar a minha memória". A Eucaristia é o "memorial" da entrega do Senhor, de sua morte-ressurreição. E a complementação da festa da Páscoa judaica que faz memória da libertação da escravidão do Egito, como nos lembra a primeira leitura desta celebração.
O que é um "memorial"? É a recordação da intervenção de Deus num determinado momento histórico, atualizando-a na ação ritual, para permitir nossa participação no fato celebrado. A Páscoa, por exemplo: em cada festa pascal, os judeus recordam a libertação da escravidão do Egito; participam deste acontecimento libertador pela ação ritual da ceia pascal, hoje, no momento histórico presente; por esta celebração, Deus lhes dá forças para enfrentar novas situações de opressão; revivem sua esperança na libertação total no futuro, na "nova Jerusalém".
Para nós, cristãos, a celebração eucarística é participação na Páscoa de Cristo. Por meio da ação memorial, participamos hoje de sua morte e ressurreição. Entregamos com ele nossa vida ao Pai, confiando que um dia o Reino irá se realizar, pondo fim a toda opressão, miséria, egoísmo..., tornando possível uma convivência fraterna. A confiança em Deus não impede, antes exige, a nossa participação, o nosso compromisso.